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Revolução dos Baldinhos vira destaque mundial em agroecologia

Órgão ligado à ONU seleciona programa de SC entre 15 projetos de sustentabilidade

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Uma história que começou como defesa de uma comunidade contra uma infestação de ratos, em Santa Catarina, virou um programa usado em outras cidades e acaba de ser selecionado como uma das 15 práticas excepcionais em agroecologia do mundo. No Brasil, luta para sobreviver sem apoio de governos.

O resultado desse concurso promovido pelo WFC (World Future Council) foi anunciado nesta sexta (18) no Fórum Global de Alimentação e Agricultura durante a Semana Verde Internacional, na Alemanha.

Grupo de moradores faz compostagem comunitária em leiras com lixo orgânico recolhido das casas no método da Revolução dos Baldinhos
Grupo de moradores faz compostagem comunitária em leiras com lixo orgânico recolhido das casas no método da Revolução dos Baldinhos - Cepagro/SC

A seleção é organizada pelo WFC, em colaboração com a startup Tags (Tecnologia para Agroecologia no Sul Global). Segundo o júri, foram atingidos os critérios de agroecologia desenvolvidos pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).

O Conselho escolheu, entre 77 indicações, de 44 países, práticas que promovem a transição para a agroecologia do Sul do globo. São projetos, programas, empresas sociais e organizações não-governamentais ligadas à alimentação sustentável.

Não há um prêmio em dinheiro, mas a chancela do Conselho pode impulsionar a adoção do sistema em outros países, e, quem sabe, trazer maior valorização no Brasil. Isso se, um dia, voltarmos a ter um Ministério do Meio Ambiente preocupado com o ambiente. E um governo federal preocupado com o manejo de resíduos e a segurança alimentar. 

A Revolução dos Baldinhos, que organiza a coleta de lixo orgânico entre vizinhos casa a casa –os baldinhos são os recipientes para armazenar cascas e restos para compostagem coletiva—, foi o único projeto brasileiro escolhido.

Revolução faz gestão comunitária de tratamento de orgânicos. É um modelo descentralizado, com a participação dos moradores. Recebeu certificação como tecnologia social em 2011 e foi premiada em 2013 pela Fundação Banco do Brasil.

Em 2016, um acordo de cooperação técnica com o Ministério do Meio Ambiente fez dela uma das técnicas disponíveis para aplicação em novos bairros do Minha Casa Minha Vida, o que efetivamente aconteceu em três cidades, do Paraná, Rio Grande do Norte e São Paulo, em 2017 e 2018.

HISTÓRIA

Em outubro de 2008, após a morte de duas pessoas devido a uma infestação de ratos na área de Chico Mendes, no bairro de Monte Cristo, na região continental de Florianópolis (SC), os moradores perceberam que era preciso acabar com o lixo que tomava conta das ruas e terrenos.

Três meses depois, em janeiro de 2009, com o apoio do Cepagro (Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo), uma ONG que já atuava na escola local ensinando a fazer horta, começava a acontecer a Revolução dos Baldinhos, movimento comunitário de compostagem de resíduos orgânicos. Seis meses depois, já eram 95 famílias envolvidas no projeto.

Os baldinhos de plástico eram distribuídos para que os moradores recolhessem neles os restos de comida das casas e levassem para postos de coleta. Duas vezes por semana, os restos de alimentos eram levados desses postos de coleta para a área de compostagem, numa escola do bairro, onde estudantes e agentes ambientais cuidavam de fazer o composto. Com o composto, se adubam as hortas comunitárias.

COMPOSTAGEM URBANA

A Revolução dos Baldinhos impulsionou a divulgação do processo de compostagem termofílica, em leiras de aeração natural, conhecido como modelo da Universidade Federal de Santa Catarina e desenvolvido pelo agrônomo e professor Paul Richard Muller.

O método está sendo usado na compostagem de restos de feiras e podas de parques de São Paulo na Mooca, na e na Lapa. É simples, barato, não causa odor e tem uma maturação não muito longa até que os resíduos virem composto orgânico.

MUDAR AS LEIS

A Revolução dos Baldinhos continua com o mesmo sistema de separação e o mesmo fluxo, em alguns bairros de Florianópolis. Para se manter, o grupo comunitário que lidera o processo vende adubo, biofertilizantes e sabão, e dá palestras e cursos.

Não tem apoio econômico na cidade. As leis municipais dificultam a adoção da compostagem. Por isso, um dos idealizadores da Revolução dos Baldinhos e autor de uma tese de mestrado sobre o tema, o vereador Marcos José de Abreu (PSOL), defende na Câmara Municipal a aprovação de dois projetos de lei.

O PL 17421/2018, que  busca estabelecer o pagamento por Serviço Ambiental Urbano, para remunerar também por peso que é desviado de aterros –todo o resíduo compostado é subtraído do peso diário enviado aos aterros pelas empresas de limpeza; e o PL 17506/2018, que prevê em  4 anos a proibição de destinação de orgânicos aos aterros na cidade.

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