Mara Gama

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Geração domiciliar de lixo cresce; não abandone a coleta seletiva

Quarentena, isolamento e distanciamento social podem aumentar de 15% a 25% produção do lixo doméstico

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Quem fazia as refeições fora de casa e agora está civilizadamente cumprindo a quarentena, para evitar a propagação do coronavírus, está engrossando um novo exército de aprendizes de prendas domésticas e de receitas de comida —o que pode ser interessante— e de supergeradores de resíduos —o que é grave e preocupante.

As contas são simples. Em uma cozinha industrial, que prepara, digamos, refeições para 400 pessoas, o desperdício de alimentos e a quantidade de embalagens descartadas é muito menor que o volume de sobras de comida e de pacotes plásticos, de papel, lata e vidro dispensados por essas mesmas 400 pessoas separadamente em suas casas.

Funcionário da coleta de lixo mostra saco com mensagem de morador em São Paulo
Funcionário da coleta de lixo mostra saco com mensagem de morador em São Paulo - Prefeitura/Divulgação

Some-se a isso a enorme quantidade de material de embalagem que os serviços de delivery de comidas prontas e também de supermercados, empórios, distribuidoras de bebida e até mercados de orgânicos usam para fazer suas mercadorias chegarem às casas dos consumidores. É assustador. E é volumoso.

O resultado é que a geração de resíduos domiciliares já está aumentando no mundo todo, em velocidade maior que a capacidade de coleta e de reciclagem, atividades estas que já enfrentam outros tipos de problema graves com a pandemia, como a escassez de alguns materiais de proteção básicos (nada específico por causa do vírus, apenas simples luvas) e restrição de horários de trabalho e de circulação.

Os números são alarmantes. Na Itália, em um mês, houve aumento de 20% na geração de lixo doméstico. No Brasil, estima-se que a quantidade de resíduos domiciliares pode crescer entre 15% e 25%, devido à quarentena. Os dados e a estimativa são da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

O aumento de lixo domiciliar pressiona fortemente o serviço de limpeza municipal. Os resíduos de grandes geradores, como restaurantes e supermercados, são coletados habitualmente por empresas independentes, com rotas próprias. Com a mudança do padrão de consumo, saindo dos restaurantes e indo para os domicílios, essas rotas dos grandes geradores ficam esvaziadas, enquanto o serviço habitual tem aumento da demanda.

Além disso, os aterros têm capacidade restrita. Um aumento de 25% do material depositado encurta a via útil dessas unidades proporcionalmente.

Está previsto também um enorme crescimento na geração de resíduos hospitalares em unidades de atendimento à saúde. Esses materiais são processados em autoclaves ou incineradores. Em São Paulo, a coleta habitual é de 100 toneladas por dia, com veículos especiais. A previsão é que pode ser multiplicada por até vinte vezes.

Diante da perspectiva, o mais importante a fazer sobre o seu lixo doméstico, se não há nenhuma pessoa com o vírus ou com suspeita em casa, é seguir com a segregação, encaminhar os recicláveis para a coleta seletiva municipal ou de alguma cooperativa e, se possível, dar uso aos resíduos orgânicos no domicílio, com um sistema de compostagem doméstica. É uma boa hora para começar.

Você pode higienizar as embalagens que vêm de fora, para manter a casa limpa, mas não misture no lixo comum. Reserve num saco para enviar para reciclar.

Já as máscaras e luvas usadas devem ser descartadas no lixo comum. É preciso manter o acondicionamento dos resíduos de forma adequada para que os trabalhadores da limpeza urbana não tenham contato com nenhum material descartado e colocar os sacos para coleta nos dias e horários determinados em sua localidade.

Tudo muda, claro, para as casas onde há pessoas contaminadas. A Abrelpe orienta, exclusivamente nesses casos, a parar de separar o lixo para coleta seletiva e colocar todos os resíduos em dois sacos plásticos resistentes (um dentro do outro), fechar de forma segura, com nós ou lacres. Apesar de não haver nenhum indício da transmissão por animais de estimação, é prudente evitar o contato deles com os materiais descartados.

Aqui, um resumo das orientações que a Abrelpe reuniu:

Se você não tem o vírus e nem suspeita

  • Continue fazendo a coleta seletiva
  • Se usou máscaras e luvas, descarte-as no lixo comum
  • Acondicione seus resíduos de forma adequada para que os trabalhadores da limpeza urbana não tenham contato com nenhum material descartado
  • Coloque os sacos para coleta nos dias e horários determinados em sua localidade

Se você tem o vírus ou suspeita

  • Todos os resíduos gerados na casa devem ser descartados em um mesmo recipiente (lixo comum)
  • Use dois sacos plásticos resistentes (um dentro do outro) para descartar seus resíduos e se certifique de que ambos estão devidamente fechados (nós ou lacres)
  • Coloque os sacos para coleta nos dias e horários determinados em sua localidade
  • Animais de estimação não devem ter contato com os materiais descartados

“Estamos acompanhando as empresas de limpeza de outras partes do mundo e uma boa notícia é que não há nenhum caso ou suspeita de contaminação através dos resíduos até agora na Itália, França, Reino Unido e Estados Unidos”, diz Carlos Silva Filho, presidente da Abrelpe.

A entidade preparou um documento com boas práticas para gestão de resíduos sólidos durante a pandemia destinado às empresas do setor, com medidas de prevenção e contenção das possibilidades de transmissão. “Nosso objetivo é assegurar condições adequadas de saúde pública, preservar o meio ambiente, garantir a proteção dos trabalhadores e prevenir as possibilidades de transmissão do vírus”, diz Silva Filho.

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