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Cai-não-cai na Saúde ofusca ataques ao Meio Ambiente

Mudança no Ibama, despacho que desrespeita Lei da Mata Atlântica e MP da Grilagem são sinais do desmonte do sistema de proteção

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Na semana que foi dominada pelo noticiário do cai-não-cai do agora ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, o governo avançou nos ataques à proteção ambiental e às terras das populações indígenas.

A notícia de que a devastação da amazônia aumentou 29,9%​ no último ano (março 2020 em relação a março 2019) foi um pano de fundo, mais uma contabilidade macabra para o que está acontecendo: as invasões às terras indígenas aumentaram com a progressão da pandemia da Covid-19, com o agravante de que os invasores podem levar o coronavírus para essas populações.

Justamente uma das operações de repressão a uma invasão de garimpeiros e madeireiros em três terras indígenas no sul do Pará onde vivem cerca de 1.700 índios resultou na exoneração do responsável pela diretoria de proteção ambiental do Ibama.

Trilha dos Manacás, no extremo sul da cidade. Região de proteção ambiental, com predominância de Mata Atlântica  - 18.out.19
Trilha dos Manacás, no extremo sul da cidade. Região de proteção ambiental, com predominância de Mata Atlântica - 18.out.19 - Gabriel Cabral/Folhapress

A ação era para reprimir desmatamento, caça e garimpo ilegais e também impedir a chegada da Covid-19 às aldeias indígenas. Foi tema de uma reportagem do Fantástico, no domingo (12).

O major Olivaldi Azevedo teria sido exonerado do cargo de chefe máximo da proteção ambiental por não ter abortado a ação. Na quarta-feira (15), saiu publicada no Diário Oficial da União a nomeação do oficial da PM de São Paulo coronel Olímpio Ferreira Magalhães, que ocupava o posto de superintendente do Ibama no Amazonas, para o lugar de Azevedo.

Há uma chance de o episódio ser esclarecido. O Ministério Público Federal pediu investigação sobre as circunstâncias da demissão de Olivaldi Azevedo. Quer saber se houve desvio de finalidade na demissão e improbidade administrativa por parte do titular do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim.

No ofício enviado para a Procuradoria da República no DF, os responsáveis pelo pedido de investigação afirmar ser preciso averiguar se o afastamento impediu “a operação em curso do Ibama” ou se esta “teve seu ritmo ou abrangência atenuados, especialmente nesta dramática situação de riscos à saúde das populações indígenas".

Desrespeito à Lei da Mata Atlântica

No dia 6, um despacho (4.410/2020) do MMA recomendou que os órgãos ambientais como Ibama e ICMBio desconsiderem a Lei da Mata Atlântica (11.428/2006) e apliquem, para áreas consolidadas nas regiões de domínio da Mata Atlântica, regras do Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), que são mais brandas.

Com este instrumento, proprietários rurais dessas áreas poderão solicitar cancelamento de multas e não há mais necessidade de recuperar terrenos consideradas irregulares e ilegais.

Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, o despacho do mninistro do MMA se baseou num parecer da Advocacia Geral da União (AGU), feito a pedido da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) e da Confederação Nacional de Agricultura (CNA) ao Ministério de Agricultura.

Entre 1995 e 2008 mais de 720 mil hectares foram desmatados no bioma. Em 2018 e 2019, foi confirmado o desmatamento de mais de 10 mil hectares de floresta, com a aplicação de mais de R$ 45 milhões em multas e a expedição de termos de ajuste de conduta (TACs) com proprietários rurais.

A Mata Atlântica é o único bioma brasileiro que tem lei específica para proteção dos remanescentes florestais e usos são regulamentados por uma lei específica. Nela vivem mais de 140 milhões de pessoas. A SOS vai batalhar contra a decisão contida no despacho que "desrespeita a lei do bioma e fragiliza a fiscalização de órgãos ambientais ao anistiar multas por desmatamento".

MP da grilagem

Está em regime de urgência na pauta da Câmara dos Deputados a votação da Medida Provisória 910/2019, chamada de MP da Grilagem. Ela regulariza a situação ilegal invasores de terras públicas, que passarão a ser proprietários legais.

Para evitar que seja votada sem discussão, durante a crise da pandemia da Covid-19, a Frente Parlamentar Ambientalista entregou ao Congresso uma carta assinada por parlamentares, oito ex-ministros do Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário e 137 organizações sociais.

Segundo o documento, a MP da Grilagem incentiva a ocupação de novas áreas, estimula o desmatamento e a degradação ambiental e pode amplificar conflitos sociais.

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