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Nada será como antes, amanhã?

Êxodo para o interior e outras ideias das cidades que pensam no pós-pandemia

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“Não ao retorno ao normal” (Non à un Retour à la Normale) é o nome do manifesto publicado no dia 6 de maio no “Le Monde” por artistas, intelectuais e cientistas. Iniciado por Juliette Binoche, o texto foi assinado por Almodóvar, Madonna, Jane Fonda e Robert De Niro, entre tantos outros.

A carta pede que, após o confinamento e as restrições à circulação provocados pela pandemia da Covid-19, haja uma transformação radical das economias para ajudar a salvar o planeta.

Fundamentalmente, que as pessoas reavaliem seus hábitos de vida, trabalho e consumo e atentem ao impacto que suas escolhas têm no ambiente. A extinção da vida na Terra não poderia ser mais negada e todos os indicadores apontariam para uma ameaça existencial direta.

"A busca pelo consumismo e uma obsessão pela produtividade nos levaram a negar o valor da própria vida: o das plantas, o dos animais e o de um grande número de seres humanos", diz o manifesto.

"A poluição, as mudanças climáticas e a destruição de nossas zonas naturais restantes trouxeram o mundo a um ponto de ruptura".

Como fazer isso na prática? Na Itália, o arquiteto que transforma prédios em florestas e atual presidente da Trienal de Milão, Stefano Boeri, pensa numa grande escapada dos centros superpopulosos em direção ao interior, para evitar a densidade habitacional.

“Chegou o momento de tomar decisões corajosas e pragmáticas", já disse Boeri, que também é professor na escola politécnica de Milão.

"Caso contrário, as cidades vão transformar-se em bombas de contaminação". Imaginando que o trabalho em casa terá se provado factível para um enorme grupo de atividades após a pandemia, no contexto italiano, o arquiteto defende que as metrópoles adotem economicamente as cidades pequenas de seus arredores e invistam nelas.

Boeri propõe que as cidades sejam vetores no desenvolvimento de corredores ecológicos planetários. Segundo ele, a pandemia indica que houve porosidade excessiva entre espécies selvagens e domésticas, ligada à destruição de habitats naturais, por causa da urbanização e da poluição.

Para combater esse efeito, seria necessária uma diminuição de densidade das cidades e o plantio de árvores, para a criação do que chama de muros biológicos de proteção.

Maior distanciamento e menos poluição são também duas das principais diretrizes de prefeitos de municípios da Europa, EUA e África que participam do C-40, um grupo de cidades mundiais empenhado em debater e combater a mudança climática.

O aumento de quilômetros de novas ciclovias em Milão e na Cidade do México e a ampliação de calçadas e bairros de pedestres em Nova York e Seattle são exemplos.

Organizados num grupo de trabalho internacional para recuperação econômica pós Covid-19, os líderes municipais de Los Angeles, Freetown , Hong Kong, Lisboa, Medelín, Milão, Melbourne, Montreal, Nova Orleans, Roterdã, Seattle e Seul anunciaram suas medidas de recuperação econômica com vistas à melhoria da saúde pública, redução da desigualdade e combate à crise climática.

A ideia que norteia a força-tarefa de prefeitos é que a maneira como será feita a recuperação agora terá fortes consequências no desenho das cidades nos próximos anos.

Em reunião virtual, os prefeitos discutiram medidas como modernização para tornar os edifícios mais eficientes energeticamente, plantio em massa de árvores e investimentos em energia solar e eólica.

Entre as medidas já anunciadas pelos prefeitos estão a ampliação de 36 km de ruas a serem transformadas em passeios para pedestres e ciclovias durante o verão em Milão, o investimento de 300 milhões de euros para uma rede de ciclovias em Paris, uma rede de 120 quilômetros de ruas livres de tráfego durante toda a semana e 47 km de ciclovias em Bogotá e ampliação de áreas para pedestres e ciclistas em Barcelona.

O grupo de prefeitos também divulgou sugestões para recuperação urbana pós Covid-19, que bem poderiam influenciar outras cidades mundo a fora. Segue aqui uma seleção:

- Remover o tráfego motorizado de ruas residenciais e estender calçadas perto de lojas, escolas e parques para tornar as caminhadas seguras e agradáveis para transporte e exercícios;

- Introduzir rotas de acesso seguras a pé, de bicicleta e de bicicletas motorizadas ou motos e scooters, de casas a parques e espaços verdes;

- Criar rotas seguras de caminhada e ciclismo de e para as escolas e fechar as ruas em torno das escolas para veículos a motor nos horários de chegada e saída dos estudantes;

- Usar bibliotecas, escolas e estádios esportivos para distribuir alimentos produzidos de forma sustentável às comunidades que mais precisam, e ampliar a coleta e o tratamento de resíduos alimentares, incluindo a distribuição de kits de compostagem doméstica e orientações

- Reformar os edifícios públicos para melhorar sua eficiência energética e com isso criar milhares de empregos verdes

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