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'Blowout' questiona gás natural como opção verde

Colaboração entre veículos e agências de notícias norte-americanos, documentário que revela danos da extração por fracking está na programação da mostra Ecofalante

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O gás natural é uma alternativa transicional, uma fonte energética limpa, estágio intermediário entre o uso atual dos derivados de petróleo e uma futura adoção de energias 100% renováveis, na direção da economia de baixo carbono.

Será? Se você acredita ou gostaria de acreditar nisso, recomendo assistir a “Blowout - Inside America's Energy Gamble” (Explosão – por dentro da aposta energética da América), que ganhou outro subtítulo por aqui: “A Nova Era do Petróleo”, e está na mostra Ecofalante de cinema ambiental. A mostra vai até 20 de setembro. A programação está aqui.

O documentário, captado em 2018, é fruto de um projeto de colaboração entre Associated Press, Center For Public Integrity, Texas Tribune e o canal Newsy. Dirigido por Zach Toombs, acompanha a cadeia de abastecimento de petróleo dos EUA, cobrindo impactos na saúde, no clima e nas economias locais.

Foto mostra uma paisagem de casas baixas, todas quase idênticas, num lugar bastante vazio, com um grande céu azul; no centro da foto, uma estrutura metálica, uma sonda de perfuração de petróleo
Cena de 'Blowout - Inside America's Energy Gamble", que passa na mostra Ecofalante de Cinema, gratuita e online - Divulgação

Traz depoimentos de cientistas, pesquisadores, jornalistas investigativos de vários veículos e de pessoas que moram próximas às áreas de perfuração e que sofreram consequências graves do boom norte-americano em torno do gás.

Aborda, também, a importância do governo Obama na proliferação de campos de extração em terra, via fracking, a partir da liberação da exportação de petróleo e gás, em 2015, revertendo a proibição que estava em vigor desde os anos 1970 nos Estados Unidos.

O fracking, ou faturamento hidráulico, é a técnica usada para a extração em terra. Envolve a injeção de água gelificada e areia sob alta pressão para dentro da terra para fraturar as rochas e fazer sair o gás natural e o óleo.

Por causa do avanço do fracking, os Estados Unidos se tornaram líderes na produção de gás natural nos chamados reservatórios não convencionais, exportando para o mercado global. Usinas que eram movidas a carvão foram convertidas em usinas de gás natural.

É desses campos em terra no Oeste, que proliferaram nos estados do Texas e do Colorado, que parte a viagem narrada pelo documentário.

Logo no início, um dado estarrecedor: 1,4 milhão de pessoas nos EUA vive a menos de 150 metros da produção ativa de petróleo e gás. Segundo o filme, o risco de câncer é oito vezes maior que o limite aceito pelos controles de saúde. Um dos personagens entrevistados diz que as regiões hoje cheias de campos de extração são áreas de sacrifício. O gás natural, que emite menos CO2, emite muito mais metano, que tem reflexos no aquecimento global.

Dos campos em terra, o filme chega ao canal do Panamá, que ampliou as instalações nos últimos anos para lidar com o aumento de exportações dos EUA com destino à Ásia, cruza o Pacífico e atinge a Índia e Bangladesh, onde petróleo e gás norte-americanos são comprados e queimados.

Em entrevista, o diretor disse que uma lição que ficou do documentário foi que os impactos globais de um aumento na perfuração, que teve um resultado econômico positivo em alguns bolsões dos EUA, tem graves impactos na saúde pública e no clima em todo o mundo.

No final das contas, o gás natural é mais limpo que o carvão em alguns aspectos. Mas seus processos de extração são danosos. Além disso, os países que investem em infraestrutura para o gás —como adaptações de portos com terminais de importação, dutos, locais de armazenamento— não o fazem para deixar de usar esse fluxo em pouco tempo.

Ou seja: mudar a chave para a economia do gás implica retardar por décadas —ou para nunca mais— a transição para as energias renováveis.

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