Desde a época de Jesus na goiabeira, é de praxe que, a cada novo delírio do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, cogite-se a hipótese da cortina de fumaça, quando um político tagarela bobagens e outro manobra assuntos de maior grandeza fora dos holofotes.
Parte ou não de uma tática, o anúncio recente da pasta sobre a criação de um programa de abstinência sexual entre os jovens não deixa alternativa que não levar a esdrúxula intenção a sério e —depois de recolhidos os queixos do chão— pacientemente argumentar contra.
A ideia-base não é de todo má. Segundo a secretária nacional da Família, Angela Gandra Martins, o projeto de conscientização debateria o sexo e suas consequências. Educação sexual, pura e simples.
Do tipo, inclusive, que o papa Francisco defende nas salas de aula, já que, em casa, às vezes o assunto é inviável, "porque as famílias não sabem lidar". A frase é de janeiro de 2019, dita no Panamá, quando foi cobrado posicionamento oficial sobre o alto índice de gravidez na adolescência na América Central.
Uma contextualização, aliás. No Brasil, 16% dos nascidos vivos têm mães entre 10 e 19 anos. E, antes que se diga que engravidar na adolescência é coisa de brasileira, lembremos que, no mundo, são 16 milhões de adolescentes grávidas entre 15 e 19 anos.
Dados assim provam o que nem precisávamos de dados para saber: os jovens transam. A coisa começa a degringolar quando um ministério entende que, por meio da bem-vinda educação, vai conseguir demover adolescentes da prática de sua pauta favorita.
É o terraplanismo em mais uma esfera. Ignorar evidências para legitimar a alienação. Em vez de educar para o sexo seguro e o planejamento familiar, forçar a catequização pela castidade, quando até a própria igreja já aponta outra tendência. É hora de lembrar que a Terra é tão redonda quanto as barrigas das jovens que continuarão a engravidar, sem ajuda.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.