Espalhados pelas pedras, os leões-marinhos dão a impressão de uma vida pacata. Executam poucos movimentos, bocejam, a maioria dorme a ponto de parecer morta. Um mergulho de hora em hora, alguns peixes para encher a barriga, e daria para invejá-los não fosse tudo uma ilusão.
Na verdade, é um inferno ser um leão-marinho. Vive-se a agradável interação com a colônia, deitar juntos para compartilhar calor, mas a parte das disputas por fêmeas ou por território é excruciante, e há quase sempre muitos gritos, e sangue, e às vezes morte.
Encarnar gente é —por enquanto— mais vantajoso. Quando em grupos civilizados, evita-se a parte dos gritos, do sangue e da morte na hora de escolher parceiros ou um lugar para cochilar depois do almoço. Só na questão profissional é preciso ocasionalmente mostrar as presas.
No jornalismo, por sorte, ainda somos amestrados, e amiúde nos tratamos com cortesia. Tretas, só por espaço. Ao contrário dos leões-marinhos, abominamos o anonimato e a mansidão e queremos sempre ser vistos. Adorados, se possível.
Há um milhão de espécies ameaçadas de extinção na Terra, avisou a ONU, e parece que nós, jornalistas, entramos este mês na lista. Natural andarmos estressados. Ninguém quer ser esquecido ou varrido do planeta. Temos lutado ainda mais por espaço e visibilidade.
Estive nesta página por duas semanas. Minha mãe e meu analista me mandaram os parabéns.
Há dois dias, o Antenor também disse que gostou do que escrevi, em uma carta no Painel do Leitor. Antenor não sabe, mas é um autêntico ambientalista.
Mais do que lustrar a vaidade típica da espécie, suas linhas preservam nosso ofício. A imprensa carece de leitores assim críticos, que tanto gostem quanto detestem as edições —importante é a troca. Obrigada, Antenor, e se puder escreva também para o Ibama. Os jornalistas estão a salvo, mas os leões-marinhos ainda precisam de ajuda.
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