Marcelo Carvalho

Idealizador e diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Graduado em administração de empresas pela FADERGS

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Descrição de chapéu Tóquio 2020

Além da festa, Olimpíada deveria ser também espaço de lutas humanitárias

Decisão do COI vai contra ao que muitas federações e ligas fazem e apoiam ao redor do mundo

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Os Jogos Olímpicos de Tóquio estão prestes a começar, e um dos debates que mais chama a atenção é sobre possíveis manifestações de atletas durante o evento.

O COI (Comitê Olímpico Internacional) determinou que manifestações políticas estão proibidas no pódio, entendendo como gestos de significados políticos ficar de joelhos, levantar o punho e o uso de qualquer símbolo militante. Abriu, no entanto, uma exceção, ao permitir que atletas possam se manifestar politicamente em suas redes sociais, em entrevistas coletivas, além de liberar pequenos gestos nas áreas das provas.

A tenista japonesa Naomi Osaka mexe no cabelo durante treino em Tóquio
A tenista japonesa Naomi Osaka mexe no cabelo durante treino em Tóquio - Wang Lili/Xinhua

Ao pensarmos em “questões políticas”, vamos lembrar que os Jogos já foram utilizados como medida de impacto contra países como a África do Sul, devido ao apartheid, assim como contra os derrotados da Primeira Guerra Mundial (Alemanha, Áustria, Hungria, Turquia e Bulgária) e, depois, os da Segunda (Alemanha e Japão).

Foram também usados para propagandas de ideologias, como em Berlim-1936, quando o regime de Adolf Hitler tentou fazer da competição um espetáculo grandioso a serviço da propaganda nazista. Isso, sim, uma questão política que o COI permitiu.

Em 2020, o movimento Black Lives Matter ganhou o mundo após atletas da NBA protestarem contra a violência sofrida pela população negra americana. Tal manifestação ganhou a adesão dos mais variados esportes pelo mundo, o que levou o COI a se reunir e estudar a liberação das manifestações.

O COI então decidiu relaxar a Regra 50, mas nem tanto. Afinal, para o presidente da entidade, as cerimônias de entrega de medalhas são espaços para homenagear os atletas vencedores por conquistas esportivas, e não por suas questões particulares. Mas será que a luta antirracista é uma questão particular?

Os Jogos de Tóquio serão realizados em meio a uma pandemia que mata milhares pelo mundo e que aumentou ainda mais a desigualdade entre ricos e pobres. O mundo do esporte deu diversas demonstrações, de 2020 para cá, do quanto é necessário e importante o posicionamento dos atletas.

Seja Lewis Hamilton na F1, buscando mais espaços para pessoas negras nas equipes. Seja Marcus Rashford, na Inglaterra, lutando para que as crianças carentes não deixem de ser assistidas pelo governo enquanto as escolas estavam fechadas. Seja LeBron James e seus colegas na luta contra a violência sofrida pela população negra.

Para a sorte do COI, dois dos principais nomes da luta antirracista, LeBron e Hamilton, não estarão em Tóquio. Mas para a nossa sorte, Naomi Osaka estará lá.

Além disso, o comitê olímpico dos EUA já avisou que vai apoiar os atletas que se manifestarem, e a seleção feminina de futebol da Grã-Bretanha informou que as atletas vão se ajoelhar antes das partidas. Tensão à vista, mesmo com as ameaças da entidade de aplicar sanções se algum protesto ocorrer no pódio.

A decisão do COI vai totalmente contra ao que muitas federações e ligas estão fazendo e apoiando ao redor do mundo. Os Jogos são feitos de momentos de festa, disputa e confraternização, mas deveriam ser, antes de mais nada, espaços de lutas humanitárias.

Afinal, de nada adianta exaltarmos os gestos de Tommie Smith e John Carlos, que protestaram com o punho erguido na cerimônia de premiação nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968, se silenciarmos os atletas com medidas arbitrárias, que calam vozes representantes de milhões de pessoas pelo mundo. ​

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