Recebi muitos protestos, e alguns insultos, depois desse artigo sobre os que negam o racismo de Monteiro Lobato.
Como a confirmar a minha tese de que o terrraplanismo está em toda parte, houve por exemplo um email violento me mandando “ir estudar” e “parar de dizer besteira”; o autor da carta dizia para eu ler “O Presidente Negro”. Mas esse era exatamente o texto de Lobato que eu citei para provar o racismo dele!
Nem tudo é loucura. Finalmente, surgiram informações novas (para mim) que ajudam a nuançar o artigo. Aqui, não ficaram batendo o pé e repetindo o mantra “não era racista”. A pedido, não divulgo o nome de quem me mandou o email. Leia o texto a seguir enviado.
(...) O conto "A Violeta Orgulhosa", publicado no livro "Histórias Diversas", em que Lobato reúne suas últimas narrativas, para o projeto das obras completas, publicado em 1947.
A trama é centrada no caso de uma orgulhosa violeta branca que nasce no meio do "violetal" de Emília. A violeta branca se acha superior às demais por ser branca. Sua empáfia é quebrada por Visconde, que declara que as violetas são roxas por terem pigmentos e que a violeta branca não tem —e quem tem "é mais" do que quem não tem. Diante dessa resposta do Visconde, Emília chega a chamar a violeta branca de ariana. A alegoria é absolutamente óbvia.
O texto, é claro, não significa que o autor tenha introjetado efetivamente a consciência de que o racismo científico e a eugenia eram falácias, menos ainda que ele tenha se tornado capaz de admirar as culturas e corpos africanos e afro-brasileiros.
Lobato era um homem nascido antes da abolição e que caiu nas falácias da pseudociência da virada para o século 20 e se compreendeu que o conhecimento que defendia era falso e publicou sua revisão, dificilmente introjetou as consequências de sua revisão aos 65 anos. Mas o conto e o trabalho de revisão de seus textos, em que, de modos tortos, valida a figura de Tia Nastácia como figura influente na reconstrução da Europa no pós-Guerra —Tia Nastácia segue com Dona Benta para a Conferência das Nações porque o conhecimento de ambas é necessário para reorganizar o mundo— demonstram que em algum momento entre a década de 1930 e a de 1940 Lobato reconheceu que estava errado.
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