Marcelo Gleiser

Professor de física e astronomia na Universidade Dartmouth (EUA), autor de “A Simples Beleza do Inesperado”.

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Nossos ancestrais, Elon  Musk e o primeiro carro no espaço

Lançamento do Falcon  Heavy é indicativo de uma nova era na exploração espacial

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Na terça feira (6) passada, enquanto o Brasil esquentava as turbinas para o Carnaval, a empresa espacial SpaceX, do bilionário americano Elon  Musk (também dono da Tesla), lançou seu foguete mais ambicioso até o momento, o Falcon Heavy.

Lançamento do Falcon Heavy, foguete da empresa SpaceX
Lançamento do Falcon Heavy, foguete da empresa SpaceX - Reuters

Esse é o um foguete inovador, um gigante que junta a potência de três foguetes Falcon 9, todos em princípio reutilizáveis. Com quase 70 metros de altura, é ainda menor do que o gigante Saturno V da Nasa (111 metros) —mas é o maior foguete construído pela iniciativa privada até o momento, capaz de lançar cargas de 70 toneladas em órbitas baixas ou de quase 30 toneladas em órbitas geoestacionárias.

O voo faz parte do plano extremamente ambicioso de Musk de colonizar Marte nos próximos 50 anos, começando com a transferência de um milhão de pessoas ao Planeta Vermelho. O que, antes, era ficção científica, em breve se tornará realidade.

O sucesso do lançamento foi celebrado como indicativo de uma nova era na exploração do espaço.

Não só as várias dificuldades técnicas foram sobrepujadas (foguetes pesados têm que aguentar vibrações enormes), mas Musk o fez em grande estilo: a carga principal da gigantesca espaçonave era um Tesla Roadster vermelho, o primeiro carro posto em órbita. E, no caso, em torno do Sol!

A órbita, com período de um bilhão de anos, é extremamente alongada, bem diferente das dos planetas. Mesmo assim, foi calculada para que o carro passasse pelas vizinhanças de Marte de vez em quando, símbolo perene da criatividade humana (e da imaginação do time de marketing da SpaceX, sem dúvida)

Talvez vire até uma divindade para nossos descendentes marcianos de milhões de anos no futuro....

A privatização da corrida espacial está acelerando seus objetivos e inovações e terá um impacto enorme na sociedade.

Jeff Bezos, dono da Amazon, tem sua própria companhia espacial, a Blue Origin, que está desenvolvendo o seu superfoguete, o New  Glenn. E a NASA, claro, ainda não entregou os pontos; também está desenvolvendo a sua versão de um foguete de alta capacidade, o Space  Launch  System, dedicado à exploração do espaço interplanetário, incluindo viagens tripuladas a Marte.

Todos os foguetes devem entrar em operação nos próximos dez anos. Alguns de nossos filhos talvez estejam entre os colonizadores de Marte.

Vemos uma profunda mudança ocorrendo na nossa relação com o espaço. Se o legado da geração atual de exploradores espaciais foi mapear e visitar os muitos mundos do sistema solar (os oito planetas e suas luas principais) com missões robóticas, a próxima irá enviar humanos ao espaço, especialmente à Lua e Marte.

Como com nossos antepassados distantes, que saíram da savana Africana para explorar o mundo, nosso destino parecer ser limitado apenas pela nossa imaginação. E dinheiro, claro. Toda missão precisa de financiamento.

Já vimos esse filme antes.

Se voltarmos à Europa dos séculos 15 e 16, encontramos nações competindo na construção de navios rápidos e resistentes para explorar o Novo Mundo e trazer riquezas de volta.

Agora, a competição é entre bilionários e não entre reis e rainhas; mas o ímpeto é semelhante, com o foco no espaço e suas riquezas.

O mundo mudou irreversivelmente devido à essa busca. O Brasil, e todos os países das Américas, é produto dela. Talvez, num futuro muito distante, historiadores contarão a história das colônias de Marte, suas guerras e feitos, expandindo ao espaço a imaginação e cobiça humana.

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