Marcelo Gleiser

Professor de física e astronomia na Universidade Dartmouth (EUA), autor de “A Simples Beleza do Inesperado”.

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Marcelo Gleiser

Um Brasil que está sem rumo

Corte de bolsas da Capes ameaça pesquisadores e ciência nacional

Mais uma vez, a ciência brasileira paga pela completa falta de visão do atual governo. Desta vez, é o orçamento da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) que se vê ameaçado pela proposta orçamentária de Michel Temer.

Escola abandonada
Escola abandonada - Zanone Fraissat/Folhapress

Caso passe, todas as bolsas de pós-graduação fomentadas pela agência (mestrado, doutorado e pós-doutorado) serão suspensas a partir de agosto de 2019. Ou seja, é interrompida a formação e a pesquisa de 93 mil profissionais de alto nível no Brasil e seus vínculos com outros países.

Serão, também, suspensos os pagamentos de 105 mil bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, isto é, nossos futuros professores.

Qual outra palavra, que não "trágica", podemos usar para descrever a situação?

O neurocientista Miguel Nicolelis disse bem: “O Dia do Juízo Final da Ciência Brasileira foi marcado!”

Num momento em que a Índia e a China estão redefinindo o quadro científico internacional, o Brasil enterra a cabeça na areia e se recusa a entender para onde o mundo está caminhando.

Que vergonha para todos nós, cientistas e estudantes brasileiros, que temos que lidar com essa cegueira e falta de liderança governamental. Sinto pelos meus colegas no Brasil, que lutam constantemente para se manter competitivos no cenário científico internacional. O que fazem, dada a patética malha de suporte que existe, é nada menos do que heroico.

Como, em pleno século 21, o governo brasileiro não vê que a ciência é o único caminho viável para a hegemonia econômica, a garantia de um país que maximiza o potencial criativo de sua população? Como o governo não enxerga o que está ocorrendo na Ásia, na América do Norte e na Europa e se relega a ser um perdedor, um mero consumidor das tecnologias que vêm de fora, ignorando o gigantesco potencial criativo da nossa população?

Um país que não sustenta a ciência é um país fadado ao fracasso. Um país que não aposta na educação científica de sua população é um país que se decretou fracassado.

Como mudar isso?

Certamente, o caminho é o processo democrático. Pense bem em quem você vai votar em breve, em que dirigentes você vai depositar sua confiança para o futuro do país.

Nada reflete melhor a verdadeira face de um país do que os políticos que o dirigem.

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