Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Marcelo Leite

Pantanal ameaçado

WWF mapeia alto risco ecológico em cabeceiras dos rios da planície alagável

"Visite o Pantanal antes que acabe" seria um slogan ambientalista arriscado, até porque prematuro. Pelo andar da SUV ruralista, no Congresso Nacional e fora dele, poderá não demorar muito para que se torne profeticamente adequado.

Não é recente a preocupação com as práticas agropecuárias nessa que é uma das maiores planícies alagáveis do mundo, assim como em seu entorno.

Um novo sinal de alerta surge agora com o relatório "Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio Paraguai", do Fundo Mundial para a Natureza (mais conhecido como WWF).

Trata-se da segunda edição do trabalho, cinco anos depois do primeiro esforço para desenvolver indicadores de saúde ambiental.

Mapa mostra 'torres de água' (azul) na bacia do rio Paraguai
Mapa mostra 'torres de água' (azul) na bacia do rio Paraguai - WWF

Resumindo a ópera trágica, houve um aumento de 5% nas áreas de alto risco ecológico, ou seja, com ameaça grave para a vida selvagem e os recursos hídricos.

De acordo com a metodologia aplicada, cuja minúcia não cabe abordar aqui, isso corresponde a 54.500 km2, o dobro da área do estado de Alagoas.

Embora a bacia do rio Paraguai, principal artéria do Pantanal, abranja também território paraguaio e boliviano, o problema mais grave se encontra no Brasil. Mais precisamente, no planalto que circunda a norte e leste o alto rio Paraguai, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Ali se encontram as chamadas "torres de água", mananciais que fornecem a maior parte da água que se acumula na planície interior e escorre lentamente pelo relevo pouco inclinado. Assim se enchem as "baías" pantaneiras, lagoas rasas que nutrem multidões de anfíbios, peixes e pássaros.

Mapas mostram zonas de alto risco ecológico (vermelho) na bacia do rio Paraguai
Mapas mostram zonas de alto risco ecológico (vermelho) na bacia do rio Paraguai - WWF

Os fatores de estresse para o ambiente natural são variados. Por exemplo a agropecuária de larga escala, como soja, cana e gado, que aumenta a erosão e carreia sedimentos, assoreando os rios, riachos e corixos pantaneiros.

Proliferam assim os "arrombados", larguíssimos leitos cheios de areia que desfiguram a fisionomia da região. 

Centenas de barramentos de cursos d'água para gerar eletricidade alteram seu fluxo, com consequências desconhecidas para as espécies de peixes. 

Nada menos que 40% desse território está sob alto risco ecológico, alerta o relatório do WWF. Não admira, pois o desmatamento do cerrado na região de planalto já ultrapassou alarmantes 55%.

Não se respeitam as áreas de reserva legal e de proteção permanente nas propriedades, que somam uma dívida com a legislação florestal de 3.920 km2 (quase o triplo da superfície do município de São Paulo).

Além disso, menos de 1% da região se encontra protegida por unidades de conservação, como parques e florestas nacionais ou terras indígenas.

Se for para contar com o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto para fazer algo a respeito, é bom tirar o cavalinho da chuva.

Pantanal, a maior planície alagável do mundo
Pantanal, a maior planície alagável do mundo - Carl de Souza/AFP
 
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