Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Um passo atrás no Império do Sol

Energia solar tropeça na China, mas pode dar dois passos à frente no mundo

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A energia solar sofreu uma reviravolta na China. E, como ela é a maior produtora mundial de painéis fotovoltaicos, o setor sofreu um chacoalhão em escala planetária. Há quem veja o sol a brilhar no fim do túnel, contudo.

Painéis solares em uma província chinesa. Em meio às placas, há uma estrada pela qual andam duas pessoas
Painéis solares em uma província chinesa - Reuters

O custo dos painéis vinha caindo muito com a firme política chinesa de incentivo a essa energia alternativa. Ela faz parte do esforço de Pequim para reduzir a dependência de carvão na geração de eletricidade, fonte dominante das emissões de gases do efeito estufa do país asiático, maior poluidor do clima.

Só em 2017, a China instalou quase 53 gigawatts (GW) de usinas fotovoltaicas. Com isso, alcançou 130 GW de capacidade de geração. Tamanha expansão se fez à base de muito subsídio.

Embora a comparação direta com centrais hidrelétricas não seja apropriada, porque estas funcionam direto (enquanto houver água) e as solares são intermitentes (não geram energia à noite), cabe dizer que só a capacidade fotovoltaica instalada no ano passado na China corresponde a quase cinco usinas como Belo Monte (11 GW). 

Com a demanda sustentada pelo governo central, a indústria chinesa de equipamentos solares teve um boom. Produzia até aqui 60% das placas no mundo. Graças ao ganho de escala, a queda nos preços dos painéis chegou a 80% de 2010 a 2017, segundo a Bloomberg.

A primeira turbulência veio em janeiro, quando os EUA anunciaram uma tarifa de 30% para painéis da China. Em 1° de junho, foi o próprio governo de Xi Jinping que lançou água fria na febre solar ao suspender autorizações para novas usinas fotovoltaicas neste ano.

Pequim também diminuiu incentivos importantes para essa modalidade de energia alternativa: reduziu o subsídio dado para a eletricidade gerada nos parques solares e tirou cinco centavos de yuan por quilowatt-hora da tarifa "feed-in" (crédito para o dono de painéis que lança na rede de distribuição a energia produzida e não utilizada).

O objetivo do governo é reduzir os preços da eletricidade em 10% em 2018, e a energia solar estava contribuindo para encarecê-la. É o consumidor chinês, no final das contas, quem arcava com os subsídios bilionários.

As ações das fabricantes de painéis despencaram, em alguns casos até 40% no ano. O freio na demanda chinesa certamente fará os preços das placas caírem. Projetam-se 35% de queda até o fim de 2018.

O baque chinês, entretanto, não implica que a energia solar entrará em crise no mundo todo. Ao contrário, o custo mais baixo das placas deve incentivar outros países a turbinar planos para essa fonte limpa.

Um dos beneficiários será a Índia. O primeiro-ministro Narendra Modi aprovou no final de maio projeto para construir uma grande fazenda solar no estado de Gujarat, com capacidade para gerar 5 GW (meia Belo Monte).

Outra nação que poderá surfar no refluxo dos preços é a Arábia Saudita. O governo anunciou no final de março negociações com investidores japoneses para construir uma gigantesca usina, com 200 GW (18 Belo Monte) —não faltam espaço nem sol no desértico país do Oriente Médio.

O Brasil também tem muita luz solar e muito território. Mas por aqui só se discute o subsídio ao diesel.

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