Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Marcelo Leite

Tendência é evoluir na direção de Bolsonaro e defender posse de armas, sugere estudo

Estudo recente sugere que tendência no Brasil será de apoio à flexibilização de armas, como defende Bolsonaro

Poucos dias antes do segundo turno da eleição, 55% dos brasileiros ouvidos em pesquisa Datafolha se diziam contrários a flexibilizar a posse de armas de fogo.

Por força dessas restrições, por aqui só 620 mil armas estão legalmente nas mãos de civis no Brasil. Com uma população de 209 milhões de habitantes, a proporção é de 1 arma para cada grupo de 337 pessoas. 

Nos EUA (329 milhões de cidadãos), são 393 milhões de revólveres, pistolas e fuzis (1,2 arma/habitante). Na Nova Zelândia, 1,1 milhão para 4,8 milhões de pessoas (1 arma para menos de 5 pessoas).

Como seria de esperar, aqui havia maioria de adeptos da posse de armas entre eleitores declarados do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), que propõe facilitar o acesso e permiti-lo já para maiores de 21 anos: 67% se diziam favoráveis, contra apenas 14% dos que declaravam a intenção de votar em Fernando Haddad (PT). 

 Alberto Fraga e Jair Bolsonaro fazem sinal com as mãos imitando armas de fogo durante a votação em segundo turno do projeto que muda a maioridade penal
Alberto Fraga e Jair Bolsonaro fazem sinal com as mãos imitando armas de fogo durante a votação em segundo turno do projeto que muda a maioridade penal - Alan Marques/ Folhapress

Note, entretanto, que ainda subsistia um contingente considerável de bolsonaristas contrários à liberalização, 29%. Após a vitória do capitão reformado, como evoluirá a opinião dessas pessoas?

Um estudo recente de pesquisadores neozelandeses sugere que sua tendência será de evoluir na direção de Bolsonaro e passar a defender a posse de armas. Como esse grupo conta mais de 16 milhões de cidadãos, não seria surpresa se aquela maioria de 55% contrários se revertesse numa maioria favorável.

A pesquisa realizada na Nova Zelândia não tratava de armas, e sim da bandeira do país. O pavilhão tradicional é aquele em que predomina o azul escuro e uma miniatura da Union Jack (bandeira do Reino Unido) ocupa o canto superior esquerdo, tendo à direita quatro estrelas vermelhas compondo um Cruzeiro do Sul. 

Em 2015, a população foi convocada a decidir em referendo se manteria a antiga bandeira ou adotaria uma nova. A proposta, batizada de Silver Fern, substituía o símbolo colonial por um ramo branco das samambaias gigantes que pontilham suas florestas com folhas que parecem prateadas na parte de baixo. 

O Partido Nacional (centro-direita), então no poder, era a favor de mudar a bandeira. Já o Partido Trabalhista, na oposição, era contra.

Uma pesquisa de opinião (Estudo de Valores e Atitudes na Nova Zelândia, NZAVS na sigla em inglês) foi realizada em 2013, antes do referendo, e repetida em 2016, depois. 

Constatou-se que 30,5% dos partidários do Nacional mudaram de opinião e passaram a apoiar a mudança da bandeira (que afinal continuou a mesma). No campo trabalhista, 27,5% se converteram à posição partidária e se tornaram contrários à troca.

Em poucas palavras, o estudo das universidades de Auckland e Canterbury demonstra que mesmo posições aparentemente ancoradas em convicções pessoais podem mudar —e mudam— quando o tema em debate se vê capturado numa atmosfera de polarização ideológica. 

A diferença entre o impacto da deriva ideológica de neozelandeses e de brasileiros está em que, embora uns poucos se digam dispostos a morrer pela bandeira pátria, na prática são as armas de fogo que terminam matando as pessoas. Os EUA que o digam.

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