Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Câncer de pele continua o mais comum no Brasil

Mama? Próstata? Não, é maior a probabilidade de você ter um tumor na epiderme, ainda mais se veraneia no Sudeste ou no Sul

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Bacana: você está na praia, talvez em Maresias (litoral norte de São Paulo), torrando ao sol neste finzinho de férias, na dúvida quanto a entrar no mar por causa dos coliformes fecais. Se não passou protetor solar, tem algo pior a temer: câncer de pele.
 
Mulheres se apavoram com os cânceres de mama, e os homens, com os de próstata, mas deveriam dedicar também atenção aos tumores do tipo melanoma e não melanoma. Assim como no restante do mundo, eles são o tipo mais comum no Brasil e devem responder por quase 172 mil casos novos por ano no biênio 2018-2019.
 
A previsão está no relatório “Estimativa 2018 – Incidência de Câncer no Brasil”, publicação do Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), do Ministério da Saúde.
 
O dado corresponde a quase um terço dos casos novos de câncer projetados para 2018-2019 no país (600 mil). Não são, contudo, os que mais matam: houve aqui 3.752 óbitos por tumores de pele em 2015, último ano com dados disponíveis.


Para comparação, as neoplasias de mama ocasionaram 15.403 mortes, em 2015, e as de próstata, 14.484.
 
Há também uma diferença profunda entre os tumores do tipo melanoma e não melanoma: os primeiros são bem mais letais. Provocam mais ou menos metade dos óbitos por cânceres de pele, mas constituem apenas 3,6% dos tumores da epiderme.
 
O melanoma ataca melanócitos, células que compõem apenas 1% da pele e produzem a melanina, pigmento escuro que lhe dá cor. É mais comum em pessoas claras, que têm menos melanina. Apresenta mais potencial para desencadear metástases, ou seja, originar tumores noutras partes do corpo –daí a maior mortalidade.
 
Em comum com os tumores não melanoma, o melanoma tem maior incidência nos estados do Sul e do Sudeste. Nessas regiões a população abriga maior contingente de descendentes de imigrantes europeus brancos, que são mais vulneráveis à radiação ultravioleta (UV) e também mais apreciadores da luz solar, fonte do bronzeado assim como das alterações no DNA das células iniciadoras do câncer.
 
A melanina funciona como um filtro solar natural. Atua como barreira física para os raios UV, espalhando-os e absorvendo entre 50% e 75% da radiação, com o que dificulta sua penetração através da epiderme.
 
A pele de uma pessoa negra deixa passar entre 7% (UVB) e 18% (UVA) da radiação, enquanto a de um branco é permeável para 24% e 55%, respectivamente.
 
Quanto mais para o sul do planeta vive uma população mais ela sofre influência do buraco de ozônio sobre a Antártida, que aumenta a incidência de UV. Não por acaso a maior quantidade proporcional de tumores de pele ocorre na Nova Zelândia e na Austrália, países austrais e predominantemente brancos.
 
Nos estados brasileiros do Centro-Oeste, Norte e Nordeste, há mais pessoas com ascendência africana e indígena. Vale dizer, com maior concentração de melanina na pele, portanto mais escuras.
 
Isso não quer dizer, entretanto, que pretos e pardos não sejam vulneráveis ao câncer de pele. Embora mais raros, tumores podem sim surgir na sua epiderme, em particular nas áreas menos pigmentadas, como as palmas das mãos.
 
Bacana: você está na praia, talvez em Maresias, torrando ao sol. Talvez não seja mesmo boa ideia entrar no mar, sobretudo se houver uma bandeira vermelha por causa dos coliformes fecais.
 
Independentemente de sua própria cor, porém, não deixe de passar protetor solar.

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