Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Pneus são cúmplices em 5.000 mortes em São Paulo

Poluição com desgaste de pneumáticos gera perda de 266 mil anos de vida e cerca de R$ 58 bilhões por ano

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Eles poderiam ser chamados de assassinos em série, mas são conhecidos, prosaicamente, como pneus. É deles grande parte da responsabilidade pela ocorrência de mais de 5.000 mortes evitáveis — e isso só na cidade de São Paulo.

Não se trata de acidentes causados por pneus, carecas ou não. O problema está no desgaste desses artefatos de borracha durante a rodagem de veículos, que produz uma quantidade indizível de partículas pequenas o bastante para terminarem suspensas no ar que respiramos.

Pode parecer improvável que a lenta corrosão dos pneumáticos tenha tamanho impacto na saúde respiratória, mas aí está o poder dos grandes números.

A capital paulista tinha em dezembro de 2018 uma frota de 8.861.208 veículos, dos quais 6,2 milhões eram automóveis. Isso dá um carro para cada dois habitantes. Só em 2018 houve 278 mil novos emplacamentos na cidade.

Não é a única fonte do material particulado (MP), um componente da poluição do ar com grave impacto na saúde pública, mas uma fonte importante. Quem chamou a atenção para isso foi André Ferreira, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), quando procurado para esclarecer outro poluente, os óxidos de nitrogênio (NOx).

Nada menos que 80% do particulado vem do desgaste de pneus, freios e asfalto. São 2,3 toneladas lançadas no ar por dia, a maior parte (1,97 ton/dia) por automóveis. Em segundo lugar, com 240 kg/dia de partículas de pneus, aparecem os ônibus (mas eles também emitem outros 450 kg de MP com a queima de diesel).

Um estudo publicado em 2016 por Karine Camasmie Abe e Simone Georges El Khouri Miraglia estimou que 5.012 mortes prematuras ocorrem na capital paulista, a cada ano, por causa do material particulado e do ozônio emitidos acima dos níveis recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O prejuízo social —266 mil anos de vida perdidos— foi por elas calculado em US$ 15 bilhões anuais (cerca de R$ 58 bilhões). Tudo isso, repita-se considerando só a cidade de São Paulo. Imagine quanto desperdício de saúde, vidas e recursos não ocorre no Brasil todo, somando a poluição nas grandes cidades com o MP produzido em queimadas de pastos e florestas.

Recorrer a veículos elétricos decerto reduziria muito a emissão de material particulado produzido pelos motores de veículos urbanos, mas não o que se origina do desgaste dos pneus. Neste caso, a alternativa está nos meios de transporte de massa sobre trilhos (metrô e trens urbanos).

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