Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Ecstasy e LSD para coronavírus

Há mais evidências para psicodélicos contra flagelo mental do que para cloroquina

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Se e quando a pandemia de Covid-19 passar, o planeta estará mergulhado noutro surto mundial –agora de doença mental. Ela já se encontra em alta, mas recebe menos atenção porque
quase 2 milhões de casos e cento e tantas mil mortes falam mais alto que o sofrimento psíquico associado.

Há pelo menos dez fatores para aumentar a incidência de transtornos mentais. Não será surpresa, tampouco, se crescer em paralelo a taxa de suicídios, como resultado da nova pandemia.

O primeiro e mais óbvio deles afeta médicos e enfermeiros na linha de frente contra a Covid-19. Sobrecarga de trabalho, falta de equipamentos de proteção individual, distanciamento da família e sucessivas mortes de pacientes ou colegas infernizam seu cotidiano nos hospitais e UTIs, sem perspectiva de terminar.

Profissionais de saúde compõem categoria até 40% mais propensa a ideações e tentativas suicidas do que a média da população. Sob a avalanche de doentes em sufocação e todo o estresse atual, é de prever que alguns chegarão bem mais perto disso.

Recessão, desemprego e perda de renda acossam o restante da sociedade, em particular aqueles sem condições habitacionais e financeiras de observar o isolamento social recomendado. Este, de resto, quando obedecido, representa o terceiro e poderoso fator deprimente.

Dificuldades de locomoção, por sua vez, restringem o acesso a serviços de saúde mental e a cultos religiosos, recursos conhecidos para diminuir a ansiedade –continuamente alimentada pelo noticiário copioso sobre a pandemia e o número galopante de óbitos, sexto componente traumático.

Some-se a isso o aumento da violência doméstica, aparente resultado do convívio forçado de cônjuges, pais e filhos –sem aulas, sem trabalho, sem lazer. Condição agravada, no Brasil, pelo jorro de chorume ideológico presidencial, imitação do negacionismo trumpiano que fomentou a presente tragédia americana.

Lá, como cá, armas de fogo estão em alta, o décimo e fatal agente patológico. Elas são, como se sabe, as preferidas de quem cogita suicidar-se, ou mesmo dar vazão à impotência argumentativa miniônica disparando tiros contra vizinhos nos panelaços diários.

Em 68 anos como rainha, Elizabeth 2ª fez só cinco pronunciamentos especiais televisionados, o último deles no domingo passado (5), neste caso para tranquilizar súditos diante da epidemia, que comparou às agruras da Segunda Guerra. Angela Merkel, na Alemanha, foi à TV pela primeira vez em 14 anos com o mesmo propósito.

O presidente Jair Bolsonaro fez isso três vezes, em meros 16 dias (fora as transmissões ao vivo por redes sociais), e em todas espalhou confusão. Agarrou-se à bandeira da economia em frangalhos e fez propaganda de supostos milagres com um remédio sem eficácia comprovada pela ciência contra o coronavírus.

Só no último pronunciamento Bolsonaro prestou solidariedade às famílias dos mortos. Se tivesse mais empatia com o sofrimento alheio, apreço pela lógica e respeito à ciência, deveria defender não a cloroquina, mas compostos cientificamente atestados contra aflições mentais que continuam proibidos.

Em seus idolatrados EUA, o psicodélico MDMA (ecstasy) está na fase 3 de testes clínicos para ajudar ex-combatentes, policiais e bombeiros na luta contra o estresse pós-traumático. Ayahuasca, psilocibina, cetamina e LSD têm ação comprovada contra transtornos mentais –em estudos controlados e rigorosos, ao contrário da cloroquina que ocupa as mentes transtornadas.

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