Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Descrição de chapéu Coronavírus Governo Bolsonaro

Festa macabra no Planalto

Não há nem haverá nada para Bolsonaro comemorar no genocídio da Covid-19

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A morte tem um encontro marcado em Brasília nesta segunda-feira (24). Será às 11h no palácio do Planalto, onde Jair Bolsonaro, com ironia macabra, presidirá a comemoração “Brasil Vencendo a Covid-19”, com transmissão pela TV Brasil.

Qualquer pessoa com um cérebro na cabeça e um coração no peito (não no bolso) sabe que o número de 2,7 milhões de recuperados em celebração por este governo orwelliano só existe porque o presidente incentivou 3,6 milhões de brasileiros a se infectarem.

Cai na sua conta a maior parte dos 115 mil mortos pelo novo coronavírus, Sars-CoV-2. Ninguém fez tanto, nem deixou de fazer tanto, fora Donald Trump, para que tanta gente morresse de maneira evitável –velhinhos, índios, trabalhadores da saúde, comerciários, motoristas, favelados.

Só no primeiro escalão brasiliense não morreu ninguém. Isso embora o sujeito que elogia torturadores e desejou a morte de uma presidente tenha logrado a contaminação de oito ministros e da própria mulher. Alheio ao sofrimento, fez até festa para o maquiador da dama, com docinhos no formato de logo da Vuitton.

Vasilha ruim não cai do jirau, como se diz.

A média diária de mortes não desce do milhar há meses. Nesse ritmo, alcançaremos em 60 dias os 175 mil óbitos no placar de seu amado Trump. Em dezembro, as baixas da Covid disputarão com o câncer um segundo lugar entre as causas de morte do país em 2020, mesmo tendo largado só em março.

Apesar de tudo, 47% da população acha que Bolsonaro não carrega culpa pela marca vergonhosa. Paciência. Terão um triste Natal para festejar, e um 2021 com mais morticínio, economia claudicante e surtos nas escolas.

Nada a estranhar, num país que se acostumou com 150 mil mortes violentas por ano, entre homicídios, desastres de trânsito e suicídios. Até a letalidade policial aumentou em plena pandemia, e ninguém parece incomodado.

É uma nação de gente frouxa, como já disse o artista plástico e escritor Nuno Ramos neste jornal, ainda em 2018: “Vocês vão deixar isso seguir, a câmera lenta do suplício, o passo a passo da catástrofe, até a coroação final desse palhaço?”

Entronizado ele já foi. Agora trabalha dia e noite pela morte dos outros e pela própria ressurreição, quer dizer, reeleição, em 2022.

Deve estar contando com uma vacina para o que um dia chamou de “gripezinha”, ou com a imunidade natural à verdade do próprio rebanho. Terá mais tempo a seu favor do que Trump, se a imunização de fato vier (não conte com o ovo na cloaca da galinha, nem com a inoculação precoce de Vladimir Putin).

Até lá o Capitão Corona já terá se lambuzado na cama do Centrão, sob o teto derruído do Orçamento e o olhar complacente de empresários, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, Augusto Aras, João Otávio de Noronha, Dias Toffoli e Luiz Fux. Livre, talvez, dos cheques e rachadinhas, mas não de centenas de mortos sob sua responsabilidade.

Muitos quererão esquecer-se disso daqui a dois anos. Outros farão o possível para lembrar que não há, não haverá nem pode haver algo a comemorar em meio a um genocídio.​

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