Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Descrição de chapéu drogas

Tabagismo entra na mira de terapias psicodélicas

Ecstasy, LSD e ayahuasca também têm potencial para tratar depressão, estresse pós-traumático ou alcoolismo

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Termina neste domingo (27) a Conferência Interdisciplinar sobre Pesquisa Psicodélica (na sigla em inglês, ICPR 2020). Surpreende ver mais de 1.200 pesquisadores num evento virtual sobre aplicações terapêuticas —até para tratar dependência de tabaco— de substâncias proibidas na maioria dos países.

Em pauta estiveram compostos como DMT (um dos componentes da ayahuasca), LSD, MDMA (ecstasy), psilocibina e ibogaína. O conservadorismo médico e jurídico-policial classifica todos como substâncias proscritas, com suposto potencial para dependência e alegada ausência de benefício à saúde comprovado pela ciência.

Não é bem assim, e mesmo no Brasil existe farta evidência em contrário. No Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por exemplo, o grupo de Dráulio de Araújo já demonstrou que a ayahuasca pode diminuir o sofrimento de quem tem depressão resistente a antidepressivos convencionais.

Há mais. Na ICPR 2020, a brasileira Lívia Goto Silva, pós-doutoranda no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), mostrou que a 5-MeO-DMT, uma variante da DMT, interfere num conjunto de proteínas envolvidas no mal de Alzheimer, no diabetes tipo 2 e na capacidade do cérebro de formar novas sinapses, abrindo novas vias para entender e quem sabe um dia tratar essa demência cruel.

Também para depressão há três grandes estudos clínicos em andamento, com emprego de psilocibina (substância dos “cogumelos mágicos”) e centenas de participantes em vários países. Mais próxima ainda de obter aprovação oficial se encontra a terapia com MDMA para transtorno de estresse pós-traumático.

O rol de condições psiquiátricas para as quais psicodélicos carregam promessa é extenso: ansiedade de pacientes terminais, autismo, alcoolismo e vários tipos de dependência química (heroína, opioides sintéticos, metanfetamina, cocaína e crack). A mais nova na lista, ao menos para esta coluna, é o tabagismo.

O portador da boa nova na ICPR 2020 foi Matthew Johnson, da Universidade Johns Hopkins (EUA). Com Roland Griffiths, um pioneiro, ele dirige o Centro para Pesquisa Psicodélica e da Consciência aberto há um ano com doações privadas de US$ 17 milhões (R$ 95 milhões).

Em estudo preliminar de 2016, Johnson constatou que 2 ou 3 doses moderadas de psilocibina, combinadas com psicoterapia cognitiva comportamental, permitiram a 9 de 15 participantes (60%) ficar sem fumar por 30 meses. Ele planeja agora ampliar a pesquisa e realizar um teste clínico controlado, com grupo placebo randomizado.

Substâncias demonizadas como ecstasy e LSD representam a principal esperança de avanço na psiquiatria para tratar distúrbios baseados em compulsão e rigidez mental, no que vem sendo chamado de renascença psicodélica. A pesquisa progride lentamente, porém, em meio aos obstáculos criados pela doutrina da guerra às drogas.

Johnson acredita que a hora da virada chegou, pelas mãos de jovens pesquisadores capazes de enxergar o futuro com imparcialidade, como disse Charles Darwin, em 1859, diante do ceticismo com sua ideia de evolução das espécies por seleção natural.

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