Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Brasil não produz anticorpos contra vírus Bolsonaro e Pazuello

Proliferam mortes da Covid, mas país se prostra perante exibicionistas, corruptos e sociopatas

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Após 367 dias da epidemia de Covid, o Brasil beira 255 mil casos confirmados de mortes pelo Sars-CoV-2, fora a subnotificação. Na quinta-feira (25) o país bateu recorde de sete meses atrás e registrou 1.582 vítimas —as diagnosticadas, repita-se.

A média móvel alcançou 1.150 óbitos por dia. Chegamos ao pior estágio da pandemia, e duas calamidades se prenunciam: a situação ainda vai se agravar muito; continuamos privilegiando as falsas batalhas e no caminho certo de perder a guerra.

Há quem deplore a metáfora bélica, talvez porque o governo esteja infestado de militares e vários deles passem hoje por exemplos de incompetência, pusilanimidade e depravação. O capitão tornado presidente é aquele deputado que elogiava impunemente tortura, fuzilamento e estupro —deu no que deu.

Faz muita falta aquele senso de empatia e comunidade que empurra cidadãos no mesmo rumo, como num conflito. Na refrega atual, o único objetivo digno é salvar as vidas passíveis de salvação. Ao abandonar máscaras e distanciamento, contar com vacinas não compradas e eleger alvos errados, multiplicamos as mortes evitáveis.

Pazuello e Bolsonaro, distantes um do outro, olham para baixo, em um ponto em comum entre eles
O ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o presidente do Brasil Jair Bolsonaro - Ueslei Marcelino/Reuters

Como se não houvesse um morticínio em curso, perdemos dias preciosos mesmerizados com um programa de TV em que exibicionismo e voyeurismo se mesclam na vivência de paixões vicárias. Um deputado federal desqualificado antes mesmo de eleger-se sequestrou a pauta do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso.

A nova legislatura, que escolheu na Câmara um presidente acusado de violência doméstica, mobiliza-se contra o STF para consagrar na Constituição o direito parlamentar à impunidade. Isso quando deveria atropelar de novo o Planalto e votar o prolongamento do auxílio emergencial para amparar os brasileiros que sofrem o pior da pandemia.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ), que nada ostenta de justo ou superior, rebaixa-se ao contrariar decisões anteriores para, na prática, inocentar o senador filho do presidente da República dado a rachadinhas. No comando da manobra, o magistrado que só tem olhos para a sinecura de uma vaga no STF, enquanto milhares se asfixiam pelo país.

Na terça-feira (23), um grupo autodenominado Médicos pela Vida fez publicar nesta Folha e noutros jornais um anúncio defendendo o tal “tratamento precoce” para Covid, com recurso ao pacote charlatão de cloroquina, ivermectina, zinco e vitamina D. (Médicos não são cientistas, já se disse; pior ainda quando são bolsonaristas que rezam pelo conhecido credo para exorcizar a ciência.)

Foi quanto bastou para um sem-número de progressistas, pessoas razoáveis e equilibradas (entre as quais amigos e fontes), atacarem esses diários com virulência. Entende-se que alguns acreditem ser obrigação moral dos jornais recusarem anúncio negacionista, mas há também quem sustente ser essa uma decisão comercial defensável.

Errado está o alvo. Escandaloso é ver médicos defendendo o indefensável. O Conselho Federal de Medicina (CFM), dominado por acólitos de Jair Bolsonaro, se omite e comete prevaricação similar à do Congresso ao fazer vista grossa para delitos recorrentes dos políticos da família, no passado e no presente.

Governadores e prefeitos também se acovardam na epidemia. Mas eles ao menos podem dar a desculpa de ter dois vírus genocidas para combater ao mesmo tempo, um nos hospitais, outro em palácio.

O pior ainda está por vir, pelas mãos sujas do capitão Jair Bolsonaro e do general Eduardo Pazuello. Escolhamos melhor contra quem nos insurgir nesta hora.

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