Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Conheça risco de coágulos com vacina de Oxford

Risco de complicação com vacina da AstraZeneca é baixo, mas não desprezível

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Volta e meia jornalistas se deparam com o problema de como noticiar eventos que possam influenciar a conduta pessoal em relação à saúde. A questão ressurgiu nas últimas semanas acerca da vacina da AstraZeneca e da Universidade de Oxford, após detectada a ocorrência de coágulos que podem ser fatais.

Muito alarde em torno dos eventos, raríssimos, e algumas pessoas poderiam desistir de se vacinar. No Brasil, cerca de um quinto dos imunizantes aplicados são dessa empresa, e não se pode escolher entre a Vaxzevria (que nome, hein) e a Coronavac —funcionários do posto aplicam o produto que estiver disponível no dia.

Já com atenção e informação de menos surge o risco de essas complicações excepcionais serem percebidas e tratadas muito tarde. A arte do jornalista está em como noticiar, fiel à máxima do jornalismo: não existe informação demais, só informação errada, distorcida, superficial ou equívoca.

Precisão é tudo. Cabe então apresentar sem rodeios o que se sabe sobre os coágulos: na Europa, onde o efeito adverso foi constatado primeiro, até domingo passado (4) se conhecia um total de 222 casos de trombose cerebral (169) ou abdominal (53) em 34 milhões de imunizados com ao menos uma dose da vacina de Oxford.

O adjetivo “raríssimo” se justifica: um evento a cada grupo de 153 mil vacinados, em média. Em alguns países a proporção parece pior, como na Noruega (1:25 mil) e na Alemanha (1:87 mil), mas pode ser fruto de diferenças na quantidade de vacinas aplicadas e perfis de idade recomendados localmente para o produto da AstraZeneca.

No Reino Unido, que até o fim de março havia injetado 20 milhões de doses da Vaxzevria sem especificar faixas etárias, a frequência foi de 1:250 mil entre imunizados. Registraram-se lá 19 mortes (1:1 milhão).

Para comparação: as mais de 350 mil vítimas da Covid-19 registradas no Brasil representam um óbito a cada contingente de 600 pessoas. No trânsito conta-se uma morte a cada grupo de 7.000 brasileiros, em números aproximados. Muito abaixo do milhão.

A maioria dos casos de trombose após a vacina de Oxford ocorre em mulheres com menos de 65 anos, sem que se saiba por quê. Aliás, por ora só se conhece uma correlação entre o imunizante e as ocorrências, pois não se descobriu o que provoca a formação de coágulos que causam as obstruções.

Existe a hipótese de uma reação imune similar àquela rara e paradoxal causada pelo anticoagulante heparina, quando defesas do corpo passam a atacar plaquetas (trombócitos) importantes para a coagulação. Essas células do sangue começam a se aglutinar em vários coágulos pelo corpo e a bloquear perigosamente veias e artérias.

Quem tomou a Vaxzevria deve, por isso, ficar atento a sintomas como inchaço ou resfriamento numa perna, dor de cabeça forte, visão embaçada, sangramentos e petéquias (manchas de sangue sob a pele). A recomendação, nesses casos, é buscar atendimento, pois há remédios para estancar o processo.

Autoridades sanitárias da Europa e a Organização Mundial da Saúde (OMS) voltarão a examinar os dados nos próximos dias. Até lá, prevalece a orientação de seguir aplicando a vacina de Oxford, pois os riscos de contrair Covid-19, adoecer gravemente, ser intubado e mesmo morrer com o coronavírus são incomparavelmente maiores.

Em menos palavras: nem pense em desistir de se vacinar. Se alguém lhe recomendar o contrário sugerindo perigo na imunização, desconfie —provavelmente é um bolsominion desatualizado, pois até o presidente genocidamente negacionista já se tornou pró-vacina desde criancinha.

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