Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Sem impeachment nem lockdown, tsunami Covid arrebenta Brasil

Militares no poder conduzem país a derrota vergonhosa no front da pandemia

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Como previsto aqui e por toda parte, chegamos a 500 mil mortos. De cabeças baixas, como cordeiros. Gente frouxa. Arrombados. Chusma de covardes. Bando de bundas-moles. Nem o abastardado vocabulário nazibolsonarista dá conta do Brasil na pandemia, a pátria dos pusilânimes. Borramo-nos todos diante de um Exército de Brancaleone.

Jair Bolsonaro, o Brancaleone da calça de neoprene apertada, arrastou o “seu” Exército a uma campanha bélica inglória, massacrante para a população sob seus cuidados. Sem causar baixas no inimigo, pois o vírus Sars-CoV-2 avança sem trégua entre brasileiros.

Durante bom tempo parecia que o presidente reagia à pandemia movido só por ignorância e oportunismo: se adversários como João Doria favorecem vacina, há que ficar contra; se comparsas como Osmar Terra, Nise Yamaguchi, Paolo Zanotto e Mayra Pinheiro põem fé no “tratamento precoce”, cloroquina para cima de todos.

Aí veio a transmissão ao vivo do presidente de quinta-feira (17). Bolsonaro, num frenesi negacionista, disse que a imunização de quem pegou Covid seria “até mais eficaz do que a própria vacina” e minimizou a proteção de 50,38% da Coronavac. O Brancaleone do Planalto deixou de mencionar, claro, que a eficácia da vacina do Butantan contra casos leves é de 78%, e de 100% para casos graves. Mais importante é entender o que o celerado quis dizer: melhor seria se todos pegassem Covid logo; vacina não passaria de frescura.

Desde sempre o arauto da “gripezinha” apostou na imunidade de rebanho, expressão apropriada para quem só se preocupa com gado. A própria analogia é quadrúpede, pois todo ano é preciso vacinar-se contra gripe, garantindo proteção diante de cepas da influenza que se alternam, e pode ser o caso também do corona.

Bolsonaro pôs para correr do Ministério da Saúde dois médicos com espinha dorsal e plantou ali um estafeta três estrelas. O especialista em logística Eduardo Pazuello, recruta zero à esquerda, que previu imunidade coletiva com 50% da população vacinada até este mês (estamos em menos de 12% com as duas doses).

O presidente não está só em sua cruzada pela morte. Achou outro médico para curvar-se. O Congresso se encolheu, com Rodrigo Maia, e se vendeu de vez, com Arthur Lira, refugando a obrigação de pautar o impeachment. “Mas quem vai sair de casa para enfrentar um vírus e protestar na rua em favor de uma medida que o próprio presidente da Câmara diz para esquecer?”, questionou Rafael Mafei em entrevista a Ricardo Balthazar. “Se o impeachment não existe para ser usado contra alguém como Bolsonaro, ele existe para quem?”

O pessoal do dinheiro se acovardou, igualmente, e partiu para o deixa-disso, ou melhor, deixa-morrer (versão nacional-escravista do “laissez-faire”, “laissez-tuer”). Já estão assanhados de novo com uma despiora de 4% em 2021 e a privatização da Eletrobras, ui, ui.

Em vez de terceira via, outro delírio da Faria Lima e Higienópolis, colhem a terceira onda, verdadeiro tsunami de Covid. Meio milhão de cadáveres para lançarem na conta de perdas (dos outros) e ganhos (deles). Gente que enche a boca para arrotar ciência enquanto cede espaço para a maleficência. Como o governador que providenciou vacina para se contrapor a Bolsonaro, mas nunca teve a coragem de comandar lockdown de verdade. Tudo se resume a afrouxar regras, seguidamente, enquanto a epidemia grassa.

As bestas do apocalipse passeiam montadas em motocicletas de alta cilindrada. Contra elas marcharia a infantaria da PFF2 na manifestação programada para este sábado (19). A ver quem e quantos terão aparecido, em desafio aos militares que desertaram diante da Covid e arrebentam o país em conluio facinoroso com tantos parlamentares, juízes, pastores, policiais, empresários, procuradores, médicos, jornalistas...

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