Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Indulto de Bolsonaro a Silveira prenuncia mais violência para juventude

Armas de fogo cultuadas por Bolsonaro e Silveira matam mais crianças e jovens

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Quem não estiver apavorado com o indulto de Jair Bolsonaro (PL) ao deputado e ex-PM Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado a 8 anos e 9 meses de prisão pelo STF, deveria estar. Caso contrário, continuará cúmplice da violência que as duas figuras nefastas representam.

Não só violência contra as instituições, os direitos e a decência, mas violência física, mesmo, maior causa de mortalidade entre jovens. Os efeitos duradouros do aumento exponencial das armas em circulação serão mais difíceis de extirpar do que outros danos ao convívio civilizado.

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O deputado Daniel Silveira - Gabriela Bilo - 20.abr.22/Folhapress

Assim como a epidemia de Covid não acabou e teve sua mortalidade agravada por Bolsonaro, o mesmo se aplica à mortandade de crianças e adolescentes. As diferenças são que para a primeira temos vacinas, apesar do presidente, e que a última vem de longe, mas dela nos esquecemos faz tempo.

A memória foi reavivada por um artigo sobre mortalidade infanto-juvenil nos Estados Unidos. Saiu no periódico New England Journal of Medicine de quinta-feira (21) e alertava para reviravolta recente nas mortes por ferimentos.

Assim como aqui, nos EUA os óbitos na faixa de 1 a 24 anos têm origem em causas externas, como acidentes, homicídios e suicídios. O trio de autores de Harvard destaca que colisões de trânsito, após seis décadas como fator principal, cederam a liderança para armas de fogo a partir de 2017.

De 2000 a 2020, as mortes de crianças e jovens por tiros, lá, cresceram de 6.998 por ano (7,3 por 100 mil) para 10.186 (10,3/100 mil). Em paralelo, acidentes envolvendo veículos caíram de 13.049 (13,6/100 mil) para 8.234 (8,3/100 mil).

Apesar dos esforços de Bolsonaro, essa inversão não tem como ocorrer aqui. O país se encontra há décadas em guerra contra sua juventude, e os homicídios já abreviam mais que o dobro de vidas moças em confronto com batidas e atropelamentos.

As estatísticas do Datasus são de matar. Em 2020 houve 54.518 óbitos na coorte de 1-24 anos, dos quais 33.907 (62,2%) por causas externas.

Das mortes não naturais, metade (16.847) resultaram de agressões. Os acidentes de trânsito foram 7.364 (21,7%), e os suicídios, 2.588 (7,6%). O restante se distribui entre quedas, afogamentos, incêndios e envenenamento.

Homicídios e suicídios por armas de fogo não devem recuar enquanto cresce o arsenal em mãos de particulares, em razão das normas relaxadas. O ralo pelo qual transborda esse esgoto são os CACs (caçadores, atiradores esportivos e colecionadores).

Em 2018, ano da eleição de Bolsonaro, havia 133 mil atiradores registrados. Em outubro de 2021, já eram 450 mil, avanço de 238%, segundo os institutos Sou da Paz e Igarapé. Com as regras afrouxadas, explodiu a importação de armas, em especial aquelas com maior poder de fogo.

Enquanto pistolas e revólveres importados subiam 12% de 2020 a 2021 (de 106 mil para 119 mil), segundo reportagem de Leandro Prazeres na BBC Brasil, chegaram no ano passado do exterior 8.160 fuzis, metralhadoras e submetralhadoras, aumento de 574% sobre os 1.211 itens de 2020. O crime organizado festeja.

Com seus decretos e "arminhas" de mão, o presidente demonstra tão pouco apreço pelo Estatuto do Desarmamento (2003) quanto tem pela Constituição (1988), pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), pela Lei Maria da Penha (2006), pela Lei da Mudança Climática (2009) e pelo Código Florestal (2012).

O assédio infralegal do Planalto é uma infestação de cupins a corroer esse arcabouço civilizatório. Bolsonaro e seu protegido Daniel Silveira, aquele da placa quebrada de Marielle Franco, sempre foram explícitos. Não vê quem não quer.

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