Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Descrição de chapéu congresso nacional

Ciências mais humanas ajudam na reconstrução do Brasil

Decifrar enigma do bolsonarismo de homossexuais e empresários não é para leigos

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Esta coluna foi produzida para a campanha #ciêncianaseleições, a pedido do Instituto Serrapilheira. Neste mês de julho, colunistas cedem espaço para textos que reflitam sobre esta questão: como a ciência pode participar da reconstrução do Brasil.

Desta vez, no último dia da campanha, vai por própria conta e risco do colunista. E logo com uma provocação para a área de ciências humanas, que com frequência se queixa de ser desconsiderada por jornalistas de ciência.

A reconstrução do país fica adiada para 2026, se não para depois, caso Jair Bolsonaro consiga um segundo mandato (o que ainda não pode ser descartado, pois não será escorraçado só com notas de repúdio). Até outubro, e até janeiro ou após, ele prosseguirá com a obra nefasta de devastação.

Jair Bolsonaro com as duas mãos no rosto
É preciso entender, ou pelo menos tentar, como é possível que homossexuais, lésbicas inclusive, tenham apoiado e ainda apoiem Bolsonaro - Carla Carniel - 25.jul.22/Reuters

O próximo presidente assumirá uma terra arrasada, material, institucional, fiscal e moralmente. E isso era tão previsível em 2018 quanto foi previsto, na ocasião, por quem não fechou os olhos para as três décadas de mau-caratismo exibido no Congresso pelo capitão.

A questão desafiadora para cientistas sociais ou políticos, economistas comportamentais e psicólogos sociais: por que foram necessários 3,5 anos de incivilidade, além da traição perante embaixadores estrangeiros, para a mal denominada elite brasileira se mobilizar e lançar mais um manifesto pela democracia?

Vários pesquisadores e pensadores da área têm se debruçado sobre o problema, com tentativas de respostas em ensaios, colunas e livros. Marcos Nobre, Angela Alonso, Celso Rocha de Barros, Maria Hermínia Tavares, André Singer, Rosana Pinheiro-Machado, Fernando Barros e Silva, Ilona Szabó de Carvalho e tantas outras têm dado contribuição interpretativa valiosa.

Parece que falta mais pesquisa quantitativa e qualitativa, entretanto, para resolver alguns enigmas. A maioria dos eleitores votou em Bolsonaro, e talvez até um terço deles volte a fazê-lo. Essas pessoas e suas razões precisam ser ouvidas, não basta deblaterar e ridicularizar sua gritaria nas redes sociais, como vimos fazendo.

É preciso entender, ou pelo menos tentar, como é possível que homossexuais, lésbicas inclusive, tenham apoiado e ainda apoiem Bolsonaro. Um desqualificado capaz de se esconder detrás da imunidade parlamentar para validar estupro de mulheres e afirmar que preferia ver um filho morto a descobri-lo homossexual.

Também soa incompreensível que tantos investidores e empresários tenham sufragado e ainda favoreçam o presidente que não governa, não trabalha e vandaliza seu adorado bezerro de ouro, o equilíbrio fiscal. Não foi por falta de leigos avisando que o capitão iria destruir o país.

Talvez só mesmo o conceito de luta de classes, que parecia tão desatualizado para dar conta da realidade complexa do mundo contemporâneo, possa explicar o que aconteceu e ainda acontece por aqui. Até nisso o Brasil está mais atrasado que a maior parte do mundo civilizado.

O mais enigmático é ver banqueiros e mecenas das artes e do meio ambiente embarcarem na canoa do exterminador da cultura e da natureza. Gente míope o bastante para, em seguida, deixar-se mesmerizar pela miragem da terceira via —e com Simone Tebet, ninguém menos.

Francamente, uma ruralista de Mato Grosso do Sul, onde o genocídio de guaranis prevalece há séculos. É essa a nova esperança para o Brasil? Só se for para o país caminhar para trás. De novo, como fizeram com Sarney, Collor, Temer e Bolsonaro.

Povos das humanas, decifrem esse sortilégio. Ajudem a reconstruir um Brasil mais decente.

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