Um colega escreveu para expressar pesar pela morte em 30 de abril do “professor dos estudantes de geometria do mundo todo”. Eu me incluo: estava no terceiro ano da graduação, na Universidade do Porto, quando ouvi falar de Manfredo do Carmo, por meio de seu “Geometria diferencial de curvas e superfícies”. É um desses livros que simplesmente não há como melhorar.
Escreveu outros. No doutorado conheci “Geometria Riemanniana”, sobre a matemática da relatividade geral, outra obra definitiva, também traduzida para várias línguas.
Depois fui aprendendo sobre o próprio Manfredo, tanto diretamente quanto por amigos comuns, especialmente seu aluno e colaborador Hilário Alencar, quase um filho. Assim cheguei a conhecer um pouco do homem por trás do matemático.
O americano Blaine Lawson, grande especialista da área, escreveu que “sua liderança intelectual e devoção incansável criaram no Brasil uma das melhores escolas de geometria diferencial do mundo. [...] Todos fomos cativados por seu encanto, sua sabedoria e sua gentileza”. Fernando Codá, outro discípulo alagoano confirma: “As conversas com ele eram sempre bem-humoradas e cheias de uma sabedoria fina”.
Em 1999, por ocasião de seus 70 anos, pediram a Manfredo uma palestra sobre a história da geometria diferencial no Brasil. Acedeu, mas avisou que encerraria o relato na década de 1980, porque “um amigo me explicou que história dos últimos dez anos não é história, é política”. O amigo fui eu, mas a frase é do historiador francês Marc Bloch —só contei para ele.
Anos atrás, participamos de uma conferência na França. Apesar de exausto —precisou encurtar a palestra—, Manfredo demonstrou uma vitalidade intelectual que marcou profundamente todos os presentes. Não parou aí e continuou cientificamente ativo até o final de seus dias.
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