Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Marcelo Viana

Manfredo do Carmo foi o professor de todos os geômetras

Pesquisador do Impa morreu na semana passada, aos 89 anos

Um colega escreveu para expressar pesar pela morte em 30 de abril do “professor dos estudantes de geometria do mundo todo”. Eu me incluo: estava no terceiro ano da graduação, na Universidade do Porto, quando ouvi falar de Manfredo do Carmo, por meio de seu “Geometria diferencial de curvas e superfícies”. É um desses livros que simplesmente não há como melhorar.

Escreveu outros. No doutorado conheci “Geometria Riemanniana”, sobre a matemática da relatividade geral, outra obra definitiva, também traduzida para várias línguas.

O matemático Manfredo Perdigão do Carmo
O matemático Manfredo Perdigão do Carmo - Acervo pessoal

Depois fui aprendendo sobre o próprio Manfredo, tanto diretamente quanto por amigos comuns, especialmente seu aluno e colaborador Hilário Alencar, quase um filho. Assim cheguei a conhecer um pouco do homem por trás do matemático.

O americano Blaine Lawson, grande especialista da área, escreveu que “sua liderança intelectual e devoção incansável criaram no Brasil uma das melhores escolas de geometria diferencial do mundo. [...] Todos fomos cativados por seu encanto, sua sabedoria e sua gentileza”. Fernando Codá, outro discípulo alagoano confirma: “As conversas com ele eram sempre bem-humoradas e cheias de uma sabedoria fina”. 

Em 1999, por ocasião de seus 70 anos, pediram a Manfredo uma palestra sobre a história da geometria diferencial no Brasil. Acedeu, mas avisou que encerraria o relato na década de 1980, porque “um amigo me explicou que história dos últimos dez anos não é história, é política”. O amigo fui eu, mas a frase é do historiador francês Marc Bloch —só contei para ele.

Anos atrás, participamos de uma conferência na França. Apesar de exausto —precisou encurtar a palestra—, Manfredo demonstrou uma vitalidade intelectual que marcou profundamente todos os presentes. Não parou aí e continuou cientificamente ativo até o final de seus dias.

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