Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcelo Viana

Problemas matemáticos: o fácil pode ser muito difícil

Nesse caso, nem o computador consegue ajudar a resolver a questão

Há um exemplo espetacular de como um problema matemático pode ser facílimo de formular e dificílimo de resolver. 

Funciona assim: considere um inteiro positivo N qualquer. Se for par, divida por 2. Se for ímpar, multiplique por 3 e some 1. Substitua N pelo resultado obtido e siga repetindo esse procedimento. Por exemplo, se começar com N=7 obterá, sucessivamente, 22, 11, 34, 17, 52, 26, 13, 40, 20, 10, 5, 16, 8, 4, 2, 1 e, a partir daí, a sequência só repete os números 4, 2, 1, ciclicamente.

Se começar com outro valor de N, a sequência será diferente, claro, porém mais cedo ou mais tarde chegará ao número 1. O número de operações até isso acontecer, chamado tempo de paragem, depende de maneira complicada do número inicial N. Mas cedo ou tarde sempre acontece.

número 02278
rob@v/Flickr

Pelo menos foi assim para todos os números testados até hoje. Com o advento dos computadores, tornou-se possível testar números cada vez maiores; hoje em dia sabemos que a propriedade de chegar ao número 1 vale, pelo menos, para todos os números N com menos de 21 dígitos.

Mas ninguém conseguiu ainda dar uma prova matemática rigorosa de que ela valha para todos os inteiros, apesar de todos os esforços feitos desde que o problema foi levantado, em 1928, pelo matemático alemão Lothar Collatz (1910–1990). Na verdade, houve pouquíssimos avanços.

O famoso matemático húngaro Paul Erdös (1913 - 1996) disse uma vez que “talvez a matemática não esteja pronta para problemas como este”, querendo dizer que não existem ferramentas para atacá-lo. Ele também ofereceu US$ 500 pela solução, e esse prêmio continua valendo.

Um avanço interessante, que também ilustra a sutileza do problema, foi obtido por John Conway e melhorado por Stuart Kurtz e Janos Simon. Num contexto um pouco mais geral, eles provaram que o problema é computacionalmente indecidível: não existe nenhum programa de computador capaz de dizer para todo N se a sequência vai chegar ao 1 ou não.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado, Paul Erdös nasceu em 1913, não em 1993.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.