Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Marcelo Viana

Quando nasceu Jesus?

Evangelho dá poucas pistas; data pode ter a ver com celebração judaica e solstício de inverno

No dia 25 de dezembro de cada ano, o Natal é comemorado na grande maioria dos países, em todos os continentes. Até em regiões que ainda usam o calendário juliano, só que nesse caso a festa cai em 7 de janeiro pelo calendário moderno.

O Natal é mais do que uma festa de uma religião: ele celebra valores de fraternidade, generosidade e esperança que pertencem a toda a humanidade. Tais valores são partilhados, por exemplo, pela Hanukkah judaica, que também acontece nessa época do ano.

Mas na origem do Natal está um fato histórico: o nascimento de Jesus Cristo, mais de 2 mil anos atrás. Então, por que 25 de dezembro?
 

O Evangelho dá poucas pistas sobre o ano do nascimento. Segundo Mateus, ocorreu durante o reinado de Herodes, que governou a Judeia até a sua morte no ano 4 a.C. 

Já Lucas afirma que foi por ocasião de um recenseamento ordenado pelo imperado romano Augusto. O ano teria sido 6 a.C.

A questão do dia é mais complicada. As Escrituras são vagas e podem apontar para datas muito distintas ao longo do ano. Porém, a tradição do 25 de dezembro é antiga.

O primeiro registro histórico é de 336, durante o reinado do imperador Constantino. Alguns anos depois o papa Júlio 1º proclamou 25 de dezembro a data oficial do Natal. Escritos da época sugerem que a essa altura ninguém sabia mais o dia exato do aniversário, logo a escolha foi por outras razões.

Uma explicação possível é que 25 de dezembro era a data de uma importante festividade religiosa dos romanos, ligada ao solstício de inverno, celebrando o (re)nascimento do Sol. Ela teria sido adaptada pelos cristãos quando Constantino tornou o cristianismo religião oficial do império. Uma teoria paralela associa o Natal às celebrações da Hanukkah.

Também havia a tradição entre os primeiros cristãos de que Jesus foi crucificado no mesmo dia do ano em que fora concebido. Com a crucificação estimada em 25 de março, no equinócio da primavera, a concepção teria sido nessa mesma data, correspondendo à festa cristã da Anunciação, logo o nascimento teria ocorrido nove meses depois, em 25 de dezembro.

É provável que todas estas explicações, e outras, tenham tido algum papel na convergência para a data escolhida.

A prática de trocar presentes ao final do ano também é antiga, remontando pelo menos à alta Idade Média. Talvez a tradição dos Reis Magos seja uma de suas origens, mas não é a única. Em todo caso, originalmente a prática não estava associada especificamente ao Natal, isso é bem mais recente. 

Na Holanda, por exemplo, até hoje a troca de presentes acontece, sobretudo, na festa de Sinterklaas (São Nicolau), no dia 5 de dezembro.

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