Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Ramanujan foi um matemático inspirado pelos deuses

As misteriosas intuições do indiano são citadas até hoje na área de I.A.

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O indiano Srinivasa Ramanujan (1887-1920) é uma das figuras mais interessantes da história da matemática, talvez de toda a ciência. Apesar de ter tido uma educação formal muito deficiente, ele tinha um talento extraordinário para descobrir misteriosas relações entre diferentes números, expressas em fórmulas extremamente complicadas das quais ninguém suspeitara antes.

Ramanujan quase nunca conseguia explicar como chegara até elas e atribuía suas intuições à inspiração divina da deusa Mahalakshmi, protetora de sua família. Divina, mas não infalível: algumas (poucas) de suas fórmulas estavam erradas! Outras só seriam comprovadas muito depois pelo trabalho de outros matemáticos, especialmente do francês Pierre Deligne, que ganhou a medalha Fields em 1978 —em parte, por ter provado a chamada Conjectura de Ramanujan.

Hinduísta aplica máscara de cinzas no rosto
Rupak De Chowdhuri/Reuters

O indiano pertence ao pequeno clube dos matemáticos cuja vida, mal ou bem, foi contada em filmes. O mais recente (2015), intitulado “O Homem que Conhecia o Infinito”, é bastante fiel aos fatos para uma obra do gênero.

Ramanujan nasceu na região de Madras (atualmente Chennai), no sul da Índia. Sua família pertencia à casta brâmane, a mais elevada na sociedade hindu, mas era pobre, e ele perdeu o pai cedo. Aos 16 anos, descobriu a paixão pela matemática, que virou seu interesse quase exclusivo. Anotava suas descobertas num caderno surrado, que carregava o tempo todo.

O descaso pelas demais disciplinas fez com que fosse reprovado mais de uma vez. Mais tarde, já casado, viu-se forçado a aceitar um emprego humilde. Aos 23 anos, encorajado pelos empregadores, reuniu seus melhores resultados numa carta ao renomado matemático inglês G. H. Hardy (1877 – 1947), da Universidade de Cambridge.

Impressionado, Hardy convidou-o a visitar a Inglaterra, onde se esforçou para fazer com que o seu gênio fosse reconhecido, vencendo preconceitos. Mas o clima inglês, aliado a deficiências nutritivas, agravou o frágil estado de saúde de Ramanujan. Diagnosticado com tuberculose, voltou à Índia, onde morreu pouco depois, aos 32 anos.

O interesse por Ramanujan vai muito além da matemática e se estende, por exemplo, ao campo da inteligência artificial. Essa área da ciência visa compreender como a mente humana faz para escolher, entre inúmeras possíveis ações, aquela que parece mais adequada a cada situação. O objetivo é replicar esses processos complexos em outros “cérebros”.

Uma questão óbvia é saber se todos pensamos e decidimos do mesmo modo ou se diferentes seres humanos podem estar equipados com “softwares” distintos. Embora a maioria dos especialistas se incline para a primeira opção, as misteriosas intuições de Ramanujan são citadas frequentemente como possível evidência do contrário.

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