Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Marcelo Viana

Computador quântico pode quebrar toda criptografia atual

Produto da Google requer instalação de milhões de dólares e precisa ser mantido a 273º graus negativos

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O novo computador quântico da Google tem apenas 53 qubits, exige uma instalação de milhões de dólares e precisa ser mantido a 273º graus negativos (muito mais frio que o espaço interestelar)! Em outubro, essa máquina fez em minutos um cálculo que levaria 10 mil anos no supercomputador mais rápido do mundo. 

Como expliquei semana passada, computadores quânticos processam a informação em qubits, unidades básicas que tiram proveito das estranhas descobertas da mecânica quântica para realizar cálculos de modo diferente e vertiginosamente rápido. A possibilidade de construir esses computadores foi aventada há quatro décadas. O problema é que qubits são extremamente difíceis de fabricar e manter, já que são destruídos pelas interações com o ambiente.

Computador quântico da Google precisa ser mantido a 273º graus negativos
Computador quântico da Google precisa ser mantido a 273º graus negativos - Lionel Bonaventure/AFP

Enquanto os engenheiros não resolvem as dificuldades práticas de se construir um computador quântico funcional, os matemáticos vêm trabalhando para tornar o projeto empolgante. Em 1998, fui palestrante do Congresso Internacional de Matemáticos, em Berlim. A estrela do congresso foi o americano Peter Shor, que apresentou a prova matemática de que computadores quânticos, quando existirem, serão capazes de fatorar rapidamente números muito grandes.

Isso é revolucionário, porque os principais métodos modernos de criptografia estão baseados no fato de que fatorar números é um problema difícil para os computadores clássicos. Em resumo, quem dispuser de computadores quânticos poderá quebrar toda a criptografia atual...

Ainda estamos longe. O maior número já fatorado por um computador quântico usando o método de Shor foi apenas 21. Para ter utilidade prática, é preciso ser capaz de fazer o mesmo para números com centenas de dígitos. E isso exigirá alguns milhares de qubits. Porém, tal como os voos precários dos pioneiros da aviação, o experimento da Google prova que um dia o sonho será realidade.

Obviamente, os especialistas em criptografia já estão buscando novos métodos que possam resistir até aos ataques quânticos. Também será necessário desenvolver novos algoritmos de cálculo, adequados para as máquinas quânticas. Não vai faltar trabalho para matemáticos e cientistas da computação... 

E a corrida está a todo o vapor, com gigantes como Google, Microsoft, IBM e Intel empenhados em dominarem a tecnologia, e China, Estados Unidos e outros países investindo maciçamente em pesquisa nessa área estratégica. E o Brasil?

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