Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Marcelo Viana

O mundo bizarro da mecânica quântica

Há muita coisa que não podemos saber porque ainda não foi decidido

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Ao final do século 19, parecia que a humanidade tinha descoberto todos os segredos do universo.
O físico britânico Lord Kelvin (1824–1907) afirmou: “Não há mais nada para descobrir na física. Tudo o que resta é fazer medições cada vez mais precisas”.

Uma coisa que ele tentou medir foi a idade da Terra. Mas a estimativa —de 20 a 40 milhões de anos— ficou muito aquém do valor aceito atualmente: 4,5 bilhões de anos. 

Kelvin errou ao não levar em conta o papel da radiatividade no aquecimento do planeta: a radiatividade ainda não tinha sido descoberta!

Até os matemáticos entraram na onda. Na famosa lista de 23 problemas que o alemão David Hilbert (1862–1943) apresentou ao Congresso Internacional de Matemáticos de 1900, o 6o era “axiomatizar a física”. 

Como se, tendo encontrado todas as leis naturais, a física estivesse pronta para se tornar uma subárea da 
matemática.

O físico alemão, Albert Einstein e Niels Bohr discutem mecânica quântica, em 1925 - Coleção particular

Ironicamente, algumas décadas depois o matemático russo Vladimir Arnold (1937–2010) escreveria: “A matemática é uma subárea da física, aquela em que os experimentos são baratos”. Essa afirmação permanece válida.

O início do século 20 evaporou o ufanismo, gerando dois avanços que mudaram radicalmente a nossa percepção do universo: a relatividade —que revolucionou as ideias de espaço, tempo, massa e energia— e a mecânica quântica, recheada de conclusões ainda mais paradoxais.

A ciência do século 19 estava baseada no princípio do determinismo: conhecendo as leis do universo, e o seu exato estado atual, poderíamos prever toda a evolução futura. 

A ideia de probabilidade seria um mero recurso técnico para compensar que não podemos saber exatamente o estado atual.

A mecânica quântica desafiou frontalmente esse princípio, afirmando que a evolução do universo é fundamentalmente probabilística: há muita coisa que não podemos saber “simplesmente” porque ainda não foi decidido. 

O resultado foi um universo extremamente contra intuitivo: gatos que estão vivos e mortos ao mesmo tempo; objetos que se influenciam instantaneamente à distância, sem comunicarem entre si; experimentos que questionam a existência do espaço e do tempo.

Todas essas previsões da mecânica quântica vêm sendo confirmadas experimentalmente com notável precisão. E agora mesmo os efeitos quânticos mais bizarros estão sendo usados para fins práticos, por exemplo, na computação quântica.

Ao longo das próximas semanas, voltarei algumas vezes para contar como chegamos até aqui, e aonde essa caminhada poderá nos levar.

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