A capacidade de fazer contas complicadas pode até parecer sinal de inteligência, mas a tarefa é mecânica e as tentativas de delegá-la a máquinas são antigas. As primeiras calculadoras foram construídas pelo alemão Wilhelm Schickard (1592–1695) e pelo francês Blaise Pascal (1623–1662). Dois séculos depois, o inglês Charles Babbage (1791–1871) concebeu o computador mecânico programável e tentou construir um, mas o projeto era ambicioso demais para a época.
Artefatos capazes de rivalizar, e depois ultrapassar, os humanos tiveram que aguardar a descoberta da eletricidade e da eletrônica, além dos avanços na matemática da computação na década de 1930. O esforço militar da 2ª Guerra Mundial foi um forte incentivo à pesquisa nesta área, levando à construção de computadores eletrônicos, tanto na Alemanha quanto nos países Aliados.
A construção do Eniac, finalizada em 1945, marca o início da era do computador digital de uso universal, com impacto além da esfera militar. A supervisão do projeto para o exército estava a cargo do matemático Herman Goldstine. Num encontro fortuito com John von Neumann numa estação de trem, em agosto de 1944, os dois falaram sobre o novo computador. Alguns dias depois, von Neumann estava na Filadélfia xeretando o projeto do Eniac, e se preparando para construir seu próprio computador no Instituto de Estudos Avançados de Princeton.
Patrocinadores não faltavam. Difícil foi obter a concordância dos colegas, preocupados com o impacto que a construção de uma máquina teria na atmosfera meditativa do instituto. Os matemáticos estavam divididos, e em outros departamentos a oposição era ainda maior. Foi decidido deslocar a construção para um prédio afastado, mas ficava numa área residencial, e os vizinhos, preocupados com o barulho (imperceptível, de fato), se opuseram com veemência.
No final, o charme de von Neumann e o apoio decisivo do diretor Frank Aydelotte venceram as resistências. A construção começou em junho de 1946 e o computador ficou operacional em 4 anos. Linguagens de programação como o Fortran só vieram depois: na época todo o código computacional era escrito em linguagem de máquina, enormes sequência de 0s e 1s. Com sua prodigiosa capacidade técnica, von Neumann não via nenhuma necessidade de outra linguagem.
O teste de funcionamento foi um cálculo complicado para saber se a bomba de hidrogênio, em que von Neumann estava trabalhando secretamente para o exército norte-americano, iria explodir. Após bilhões de operações, o computador respondeu que sim. Continuou funcionando perfeitamente até 1958 quando, após a morte de von Neumann, foi desativado e cedido à Smithsonian Institution, onde está em exibição.
Essa foi a primeira e última incursão do Instituto de Estudos Avançados na ciência experimental.
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