O telégrafo foi o primeiro sistema de comunicação capaz de transmitir qualquer mensagem rapidamente a grande distância. A tecnologia já ficou obsoleta, embora não há tanto tempo. Mas a matemática que ajudou a criar, a chamada teoria da informação, é mais atual do que nunca.
O primeiro tipo foi o telégrafo ótico, criado em 1792 pelo francês Claude Chappe (1763–1805) e que se disseminou rapidamente no império de Napoleão. Em meados do século 19, começou a ser substituído pelo telégrafo elétrico, desenvolvido na Grã-Bretanha e que logo se espalhou por todo o mundo. Cabos telegráficos submarinos foram a primeira via de comunicação rápida entre continentes: a nossa ligação à Europa, por exemplo, foi completada em 1874.
Um telégrafo é formado por duas ou mais estações ligadas por cabos elétricos. Na estação de envio, o operador aperta um interruptor repetidamente. A cada vez isso fecha um circuito elétrico, fazendo com que um clique seja produzido na estação de recebimento. Lá, os cliques são interpretados por outro operador, que anota a mensagem. As letras do texto são enviadas uma a uma, segundo código pré-estabelecido. O mais famoso, inventado pelo norte-americano Samuel Morse (1791–1872), e adotado como padrão internacional em 1865, usa apenas dois tipos de cliques: curto e longo.
Mesmo com a automação, o custo de uma mensagem por telégrafo (telegrama) nunca ficou competitivo com o da carta. Mas o telégrafo tinha a vantagem da rapidez, pelo menos até o século 20, quando a disseminação do telefone começou a roubar esse diferencial. Lá pelo ano 2000, ainda enviávamos telegramas para assuntos urgentes. Aliás, também tivemos o telegrama fonado, combinação de chamada com telegrama, quando um dos lados não tinha telefone.
Telegramas eram pagos por letra, o que originou uma escrita cheia de abreviaturas —hoje muito usada nas redes sociais. Dela restam diversos vestígios na nossa linguagem, começando pelo adjetivo “telegráfico” (demasiado sucinto). Outro é o código SOS, usado inicialmente em telegramas para significar pedido de ajuda. A lenda diz que viria de “save our souls” (salvem as nossas almas, em inglês), mas ele foi criado na Alemanha e provavelmente foi escolhido por ser fácil de se escrever em código Morse: três cliques curtos, três longos, três curtos. No Brasil ainda temos “pt saudações”, para significar despedida pouco cerimoniosa: “pt” abrevia “ponto”, e esse era o modo padrão de terminar um telegrama.
O sucesso do telégrafo gerou a necessidade de uma nova área da matemática, dedicada ao estudo da noção de informação. Seu principal criador foi o matemático e engenheiro norte-americano Claude Shannon (1916–2001). E embora a chegada da internet tenha relegado o telégrafo às estantes dos museus, ela só tornou essa nova disciplina cada vez mais importante. Falarei sobre isso outra hora.
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