Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Descrição de chapéu internet

Algoritmos não são melhores pessoas do que nós

Treinados em redes sociais, adquirem atitudes extremas de preconceito e até violência

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O algoritmo AlphaZero, atual campeão do mundo de xadrez, foi criado ao final de 2017. Seus autores lhe ensinaram as regras do jogo e pouco mais, e logo o colocaram para treinar, jogando contra si mesmo. Apenas nove horas depois, estava pronto para encarar o campeão da época, o algoritmo Stockfish: em 100 partidas, AlphaZero venceu 28 e empatou as demais.

Em 2021, o Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) realizou uma parceria com a empresa Dasa para o uso de inteligência artificial no diagnóstico por imagem em medicina fetal. Utilizando dados reais, nossa equipe desenvolveu e treinou um algoritmo capaz de determinar, com confiabilidade superior a 90%, a quantidade de líquido amniótico, parâmetro crucial do desenvolvimento do feto. Agora a empresa dispõe de uma ferramenta para prestar, rapidamente e em qualquer lugar, um serviço importante que antes exigia o trabalho de profissional altamente especializado.

O progresso extraordinário da inteligência artificial facultado pelos avanços na ciência de dados e na tecnologia da informação está revolucionando o mundo em que vivemos, com algoritmos ocupando cada vez mais espaços antes reservados a humanos. Mas essa revolução também tem um lado sombrio, pois inteligências artificiais não estão imunes aos defeitos que deploramos em tantas pessoas.

Robô com carcaça toda branca abre os braços em frente a fila de pessoas
Robô na Colômbia, em frente a uma fila de atendimento ao cliente - Joaquin Sarmiento/AFP

Em "Homo Deus", o escritor Yuval Harari relata o caso de uma empresa de capital que tem um algoritmo chamado Vital como membro de seu conselho de administração. O registro das votações mostra que Vital favorece os investimentos em empresas que também têm algoritmos como conselheiros. Seria o primeiro caso na história de nepotismo artificial!

Também sabemos que algoritmos treinados em certos ambientes das redes sociais adquirem atitudes extremas de preconceito, racismo e até violência. Isto não deveria nos surpreender, mas não deixa de ser decepcionante para quem, como eu, sonhou com o advento de máquinas inteligentes com potencial para ajudar a melhorar a própria espécie humana por meio do seu exemplo.

Os algoritmos dos nossos dias ainda estão longe da autoconsciência, que associamos à ideia de inteligência, e nem sequer são melhores pessoas do que a gente. Mas eles chegaram para ficar, e o mundo nunca mais será o mesmo.

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