Marcia Castro

Professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.

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Marcia Castro

É urgente investir em saúde mental

Relatório da OMS aponta que cerca de 1 bilhão de pessoas vivem com algum tipo de transtorno mental no mundo

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O último dia 18 marcou o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Em quase cinco meses de mandato, o atual governo já investiu mais de R$ 32 milhões na expansão da Rede de Atenção Psicossocial no Brasil. Esse investimento é necessário e representa o começo de um plano urgente de fortalecimento das políticas de saúde mental. Segundo relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem com algum tipo de transtorno mental. O acesso a cuidados, entretanto, é limitado pela falta de pessoal qualificado, ausência de serviços, falta de conhecimento, estigma e descriminação.

Globalmente, antes da pandemia de Covid-19, a expectativa de vida de pessoas que viviam com transtornos mentais, comparada à de quem não possuía transtornos, era 10,2 anos menor entre homens e 7,3 anos menor entre mulheres. Essa diferença resulta de mortes prematuras devido a suicídio e comorbidades físicas associadas à doença mental e ao sofrimento psíquico.

Folião no bloco carnavalesco Loucura Suburbana alegrou as ruas do Engenho de Dentro, que tem o de promover a saúde mental e a inclusão e respeito
Folião no bloco carnavalesco Loucura Suburbana, no Rio - Fernando Maia 16.fev.23/Riotur

Esse cenário se agravou ainda mais desde 2020, uma vez que a pandemia afetou a saúde mental de pessoas com e sem condições preexistentes, exacerbou desigualdades sociais e ocasionou rupturas no acesso a serviços de saúde.

Segundo a OMS, apenas durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19, casos de depressão e ansiedade aumentaram mais de 25% globalmente. O suicídio foi responsável por mais de 1 em cada 100 mortes, sendo que 58% ocorreram antes dos 50 anos de idade. Segundo o Unicef, 15% dos adolescentes na América Latina vivem com algum tipo de transtorno mental. Depressão e ansiedade respondem por metade desses transtornos, e suicídio é a terceira causa de morte entre adolescentes com 15 a 19 anos. Importante ressaltar que o abuso sexual infantil e o abuso por intimidação são importantes causas da depressão.

Nesse aspecto, as estatísticas do Brasil são repugnantes. Em 2021, quase um quinto das vítimas de estupro tinha de 5 a 9 anos! Cerca de 61% dos estupros tiveram como vítimas crianças e adolescentes menores de 14 anos.

Com relação a suicídios, o número em 2021 foi 2,3 vezes maior do que em 2000. Regionalmente, esse número mais que triplicou nas regiões Norte e Nordeste. Considerando o tamanho populacional, a região Sul consistentemente apresenta as maiores taxas de suicídio. Em 2021 foram cerca de 12,2 mortes a cada 100 mil habitantes na região Sul, contra 7,8 no Brasil.

Um estudo publicado neste mês no periódico The Lancet discutiu fatores de risco associados com a morte prematura devido a transtornos mentais e sugeriu estratégias de ação organizadas em três categorias.

A primeira se refere à integração dos cuidados de saúde mental e física, incluindo acesso a serviços de saúde mental de qualidade na atenção primária e melhoria em rastreio, identificação precoce e tratamento de comorbidades.

A segunda aborda a priorização da prevenção e o fortalecimento do tratamento e sugere ações específicas no local de trabalho, intervenções comunitárias participativas, programas de conscientização e treinamento.

A terceira fala em otimização das intervenções e ações multissetoriais. Aqui estão incluídas estratégias para redução do estigma e discriminação, aumento do investimento em programas de saúde mental, redução das desigualdades de renda, gênero e raça e uso de novas tecnologias no tratamento.

O acesso aos cuidados em saúde mental é um direito humano. Fortalecer e expandir a rede de atenção psicossocial é um investimento, já que contribuiria para reduzir morbidade e mortalidade evitáveis, mas acima de tudo é um compromisso moral de qualquer governo que preze pela vida.

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