Marcia Dessen

Planejadora financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcia Dessen

Aversão a risco ou a perda?

Quem aceita risco para ganhar mais aceita também a possibilidade de perda

Cédula de R$ 2,00 (dois reais) - Folhapress

Você sempre investiu em renda fixa, poupança, depósitos bancários, fundos DI, produtos adequados ao seu perfil de investidor: conservador. De repente, a taxa de juros da economia cai pela metade e você passa a sofrer uma pressão exacerbada para sair das aplicações mais seguras para outras mais arriscadas, com promessa de rentabilidade maior. Há dois problemas potenciais nessa abordagem.

Quem garante que a rentabilidade será maior? Em quanto tempo essa pretensa rentabilidade superior será alcançada? A que riscos estou expondo meu capital para tentar ganhar um pouco mais? Parece que o brasileiro aceita, a princípio, maior exposição a riscos se e quando o resultado compensa.

Mas aí se apresenta outra pergunta: quanto você está disposto a perder nessa tentativa de ganho superior ao da poupança e outros investimentos conservadores? "Perda?!... não, perda não", responde prontamente o investidor conservador.

Pois é, uma coisa não existe sem a outra. Para (tentar) ganhar mais, é preciso correr mais risco. Risco implica, necessariamente, possibilidade, maior ou menor, de perda de parte do capital investido.

Os números comprovam que o investidor brasileiro aceita mais risco. Dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) reportam que, pela primeira vez na história, a captação dos fundos de ações superou a dos fundos de renda fixa. No primeiro trimestre de 2018, os aportes em fundos de ações e multimercados foram responsáveis por 84% da captação líquida da indústria, enquanto a participação dos fundos de renda fixa caiu para 12%.

O número de cotistas dos fundos multimercados em dezembro de 2017 (1.044.270) dobrou em relação ao mesmo período de 2016 (500.541). Nos três primeiros meses de 2018, mais 230 mil investidores depositaram recursos nos fundos multimercado com expectativa de aumentar a rentabilidade.

A pergunta é: será que além do risco esses investidores aceitam perda? A análise do perfil do investidor, conhecida como "suitability", foi bem conduzida? O agente comercial alertou o investidor sobre a possibilidade de perda? O investidor entende que essa é uma possibilidade real ou prefere acreditar apenas no discurso sedutor de maior rentabilidade?

Quando a perda acontece, como você reage? Mantém a calma, ciente de que a desvalorização podia acontecer e aguarda pacientemente a recuperação do mercado? Ou resgata a aplicação com receio de perder ainda mais?

A Anbima, de olho no crescimento intenso e acelerado da captação dos fundos multimercado e de ações, intensifica a fiscalização para saber como os produtos estão sendo oferecidos e de que forma tem sido feita a análise de perfil do investidor. Ponto para ela.

Você, investidor, faça a sua parte também. Pesquise e investigue o produto antes de comprar. Não acredite em promessa de rentabilidade, prática irregular e proibida pela CVM. Lembre-se de que a hora de resgatar investimento mais arriscado é na valorização dos ativos. Ganhou 10% ante 5% que teria ganho na poupança? Avalie a hipótese de colocar o lucro no bolso e repense sua próxima estratégia.

A perda indesejada ocorreu? Esse será seu teste de autoconhecimento. Se você aguentar firme a turbulência, saberá que tem tolerância a risco e a perda. Se entrar em pânico e resgatar, saberá que as aplicações de renda fixa, embora menos rentáveis, são as mais adequadas ao seu perfil de investidor.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.