Marcia Dessen

Planejadora financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.

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Marcia Dessen

Perda inesperada assusta investidor

Aumento na taxa de juros de longo prazo provoca perda em carteiras de renda fixa

Rose está preocupada. Há anos aderiu a um plano de previdência e optou por um fundo considerado de baixo risco, que investe em títulos de renda fixa de taxa pré e pós-fixada e, também, atrelados a índice de inflação.

O gestor não está autorizado a investir em ações, exatamente como Rose deseja. Rentabilidade negativa é uma hipótese que ela descarta, já que abre mão de ganho potencial superior em troca de rendimentos, em tese, menores, mas constantes e positivos.

Foi surpreendida com a rentabilidade negativa de 0,3% do mês de maio. Sem entender a causa desse desempenho, foi orientada a esperar. Insegura, pede informação qualificada e mais esclarecedora para decidir o que fazer.

A volatilidade nos preços dos ativos de renda fixa sempre existiu. Carteiras que investem em títulos de taxa prefixada estão sujeitas a variação negativa sempre que a taxa de juros de longo prazo sobe. 

Os ativos atrelados a índices de inflação, mais longos, estão sujeitos a oscilações maiores, podendo gerar perdas relevantes conforme o percentual alocado nesse tipo de ativo e o prazo médio desses títulos. 

Então o que mudou? Por que uma carteira que nunca havia apresentado rentabilidade negativa registrou perda de 0,3% no mês de maio? 

Supondo que não tenha havido mudança significativa na estratégia de investimento do fundo, existe uma explicação simples e de fácil entendimento: a rentabilidade média cheia, isenta de eventuais oscilações negativas, caiu do antigo 1,1% ao mês (Selic a 14% ao ano) para 0,5% ao mês (Selic a 6,5% ao ano).

A faixa de flutuação entre zero e o retorno máximo esperado se estreitou. Uma perda de 0,5 ponto percentual zera o retorno no mês, e perdas superiores resultam em rentabilidade negativa. Em meses anteriores, uma perda de 0,8 ponto percentual, por exemplo, gerava uma rentabilidade pequena, mas ainda positiva, de 0,3%, uma perda despercebida. Agora, a mesma perda de 0,8 ponto percentual no mês resulta em uma rentabilidade negativa de 0,3%.

Outro aspecto de difícil compreensão é entender por que houve queda no valor dos títulos se a taxa Selic permanece inalterada. 

Ocorre que o valor dos títulos de taxa prefixada não é apurado com base na Selic, mas na taxa de juros de longo prazo, pouco conhecida.

E por que a taxa de longo prazo subiu? Em razão de maior percepção de risco, maior incerteza acerca do cenário político e também do menor crescimento da economia. Se e quando esses obstáculos forem vencidos, o mercado deverá registrar queda na taxa de juros de longo prazo e valorização dos ativos. 

A decisão de ficar ou mudar para outro tipo de fundo é da Rose. Ficará se entender que a flutuação de preços no curto prazo é natural e acreditar na recuperação do mercado.

Se ela preferir uma estratégia mais conservadora, isenta da flutuação desfavorável nos preços, optará por transferir todo ou parte do capital investido para um fundo que investe 100% do patrimônio em ativos de taxa pós-fixada, atrelada à taxa de curto prazo, à taxa Selic ou ao DI, com resultados sempre positivos.

Considerei exclusivamente o risco de mercado, proveniente da flutuação na taxa de juros. Perdas decorrentes de risco de crédito (calote) podem ocorrer em qualquer fundo com títulos privados. Como o fundo investe em títulos públicos, não há evidências de que tenha sido esse o risco responsável pela desvalorização dos ativos da carteira.

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