Há alguns meses, os investidores do Tesouro Direto vêm se beneficiando da isenção da cobrança de taxa de administração até então praticada pelas grandes instituições financeiras. Elas foram pressionadas a rever sua política em razão da concorrência de corretoras independentes que isentavam os clientes do pagamento dessa taxa. Bendita concorrência!
Tive a oportunidade de escrever sobre como elas ganham dinheiro na coluna “Tesouro Direto de graça?”. Elas não cobram nada de seus clientes, mas são remuneradas com o repasse de parte da taxa de custódia cobrada pela B3.
O investidor do Tesouro Direto beneficiou-se mais uma vez, desta vez com a redução da taxa de custódia cobrada pela B3, de 0,30% para 0,25% ao ano. Essa política pressiona ainda mais a indústria de fundos de investimento a rever os custos para manter competitividade em relação ao Tesouro Direto.
Um banco digital lançou um fundo de renda fixa DI, que investe exclusivamente em título público federal, a Letra Financeira do Tesouro, ou a Tesouro Selic, como é conhecida no Tesouro Direto. O administrador desse fundo, que já cobrava taxa de administração de 0,10% ao ano, reduziu a taxa para 0,09%, acirrando ainda mais a competição entre os grandes.
Convenhamos que um fundo DI, sem risco de crédito na composição da carteira, com liquidez diária e custo equivalente a um terço do do Tesouro Direto, é uma alternativa que o investidor não pode ignorar e que certamente forçará os concorrentes a novos movimentos que tendem a ampliar a quantidade de investidores beneficiados por essa saudável competição.
Esse nível de taxa de administração, desde que o fundo tenha determinado montante de patrimônio, é suficiente para pagar a conta das despesas de abrir e manter um fundo aberto. Ora, sabemos que não existe almoço grátis no mercado, então como a instituição ganha dinheiro?
Nesse fundo especificamente, o ganho vem do descolamento entre a taxa Selic e a taxa DI, atualmente no patamar de 0,10%. Se o fundo recebe 100% da taxa Selic (6,50%) e repassa para o cotista do fundo 100% da taxa DI (6,40%), o administrador fica com uma receita adicional de 0,10%.
Outra gigante do setor já havia criado, há tempos, um fundo com taxa inferior à taxa de custódia cobrada pela B3, competindo de frente com o Tesouro Direto. Agora, pressionada pelo concorrente, reduziu a taxa do fundo para 0,08% ao ano.
Os fundos com taxa mínima de administração foram criados para competir com o Tesouro Direto. O Tesouro, por sua vez, reduziu a taxa de custódia para não se afastar demais dos novos fundos. O grande beneficiado por essa guerra de preços (custos) é o investidor.
Os grandes investidores, que muitas vezes não conseguem investir via Tesouro Direto em razão do valor de aplicação limitado a R$ 1 milhão por mês, encontram uma alternativa interessante nas tesourarias dos grandes bancos que vendem títulos de suas carteiras, sem cobrar pela custódia própria.
Como o banco ganha dinheiro, nesse caso? Cobrando um spread, pagando ao cliente uma taxa inferior à de aquisição. Exemplificando, compra uma NTN-B por 5,50% e vende por 5,35%, ganhando um spread de 0,15%.
Quanto maior a quantidade de participantes do mercado, melhor para o consumidor. A presença de vários players assegura uma saudável competição na disputa pelo cliente final, figura essencial para o negócio e sua lucratividade.
Tomara que uma onda semelhante aconteça no ainda caríssimo mercado de crédito...
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