Márcio Rachkorsky

Advogado, é membro da Comissão de Direito Urbanístico da OAB-SP.

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Márcio Rachkorsky

Chatos do condomínio ficam ainda mais chatos na quarentena

Em plena pandemia, eles investem tempo e energia para infernizar a vida do síndico, do zelador ou dos vizinhos

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Ao longo desta quarentena, não canso de elogiar o comportamento dos moradores de condomínios, que cumpriram com louvor a dura tarefa do confinamento e respeitaram as restrições impostas ao uso de áreas comuns. Vale também exaltar o resgate das boas práticas de gentileza e cordialidade entre vizinhos, algo que estava esquecido.

Os chatos de plantão, porém, conseguiram ficar ainda mais chatos. Em plena pandemia, eles investem tempo e energia para infernizar a vida do síndico, do zelador ou de algum vizinho. Usando nomes fictícios, vou narrar três casos de que cuidei nessas semanas e que demonstram a insanidade de alguns desses chatos.

Helena, já conhecida no prédio, resolveu reclamar da água que cai em sua varanda quando a vizinha molha as plantas. O tempo está seco, e a vizinha de cima, em home office, ama cuidar de suas plantinhas. Agora, tem pavor de regá-las, porque, mesmo com todo o cuidado, bastam algumas gotas para o interfone tocar.

Helena mandou as fotos dos pingos em sua varanda e exigiu providências. Fui conversar com ela e perguntei: "Quando chove, sua varanda, que é aberta, não molha?" Ela respondeu: "Claro que sim, mas aí não é obra da folgada do andar de cima". Ou seja, ela não se importa com os pingos, mas com a vizinha.

Prometi conversar com a moça e recomendar mais cuidado... mas, sinceramente, em plena pandemia, haja paciência.

Prédios residenciais na Asa Norte, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

Ricardo, o sabichão, sempre se apresenta como especialista em qualquer tema. Mas agora, na quarentena, resolveu analisar as contas do ano inteiro e importunar a vida do síndico com perguntas capciosas sobre os balancetes.

Indelicado, manda mensagens fora do horário sobre diferenças de centavos. A pedido do síndico, fui entender as apurações do Ricardo e percebi que era uma questão de vaidade. Por longos minutos, ele narrou sua afinidade com números, a passagem na controladoria de uma grande empresa e disse que só queria ajudar.

Agradeci o empenho e expliquei que o síndico, um cara do bem e muito ocupado, se sentiria mais tranquilo com a contratação de uma auditoria independente para uma analise mais técnica das contas.

O chato logo disse: "Imagina, não precisamos gastar um dinheirão com auditoria, porque são apenas detalhes, está tudo em ordem". Conversa encerrada. Ele só queria ser o chato da vez, mais nada.

E o que dizer da Amanda, que passa o dia fiscalizando de sua varanda o movimento da portaria.

Obviamente, ela não hesita em interfonar ao porteiro perguntando sobre pessoas estranhas que acabaram de entrar no condomínio. Depois, vai para o grupo de WhatsApp falar que viu gente estranha entrando, que podem estar infectados e algumas outras bobagens.

No caso, eram apenas os novos inquilinos, recém-chegados ao condomínio. Ela chega ao cúmulo de contar quantas vezes a moça da limpeza adentra na sala da administração ou no banheiro, sugerindo que enrola no trabalho. É o fim da picada.

Aos síndicos e gestores, coragem e paciência. Quando isso passar, as relações de vizinhança evoluirão bastante, mas os chatos seguirão firmes, apequenados em suas verdades, manias e arrogância.

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