Pouco depois de ser anunciada pelo governo federal, a intervenção na segurança do Rio começou a ser denunciada por sua improvisação, seus mal disfarçados objetivos políticos e sua incapacidade de sanar as causas da violência.
Desde o assassinato da vereadora Marielle Franco, no entanto, a perspectiva sobre o trabalho dos interventores mudou para pior: ele não está se revelando apenas inútil, mas pode acabar desmoralizando o governo federal e as Forças Armadas.
Desde o último fim de semana, a violência recrudesceu: ao menos oito mortos na Rocinha, cinco jovens assassinados em Maricá, assaltos e tiroteios diários em vários pontos do Rio, incluindo na zona sul e no centro.
As ações que contam com a participação do Exército têm sido vexames sucessivos: a ocupação na Vila Kennedy se mostrou inócua, sem nenhum chefe do tráfico preso e nenhuma apreensão significativa de drogas ou armas.
Uma vistoria no presídio Bangu 3 para acabar com os “escritórios do crime” usou 220 soldados e só pegou ventiladores e um único celular. A maior das operações já feitas contra o roubo de cargas e de veículos, com 3.400 militares, vazou antes de acontecer e teve resultados pífios.
Até o governo federal decidir nomear um interventor militar, todos os problemas de segurança estavam sendo colocados na conta dos catastróficos governos do MDB fluminense. Ao assumir o problema para si, Temer pediu truco, mas viu a criminalidade retrucar —e está seriamente ameaçado de ser pego blefando.
Se os generais que ora mandam na segurança do estado não conseguirem nem ao menos estabelecer a paz provisória que se viu em ocasiões como a Olimpíada-2016 e a Copa-2014, será a desmoralização completa. E, quando as Forças Armadas ficam desmoralizadas, os efeitos costumam ser tenebrosos.
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