Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

Preço baixo e risco alto: o que você precisa para investir em empresas em recuperação judicial

Dos 20 papéis mais baratos em dia de caos no mercado, 12 eram de empresas que estão ou já estiveram em recuperação judicial ou extrajudicial

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O mercado de ações enfrenta, nesta semana, uma luta sangrenta. Apenas acompanhar a variação de preços da sua carteira de investimentos, além de causar irritação (e possível taquicardia), impede que o pequeno investidor fareje novas oportunidades.

É bom revisitar o campo de batalha na manhã seguinte, sob a luz do sol, para fazer uma contagem de corpos e entender os resultados.

Ao analisar as ações mais baratas na abertura do mercado nesta terça-feira (10), dia seguinte à queda de mais de 12% do Ibovespa, foi possível identificar um ponto interessante: dos 20 papéis mais baratos, 12 eram de empresas que estão ou já estiveram em recuperação judicial ou extrajudicial.

Painel da Bolsa de Valores de Nova York, Estados Unidos
Painel da Bolsa de Valores de Nova York, Estados Unidos - Michael Nagle/Xinhua

Essas companhias correspondem a menos de 10% das empresas com ação em bolsa, mas lá estavam, representando mais da metade dos papéis mais desvalorizados do mercado.

Não que o preço baixo, por si, torne uma ação atraente. Veneno a R$ 1 também mata. Mas a constatação sobre os preços serve ao menos para mostrar que é uma boa hora para estudar as empresas em recuperação. Ainda mais depois de ver o Ibovespa despencar nesta quinta-feira (12).

Quem investe a longo prazo, deve levar em conta a solidez das empresas em que coloca seu dinheiro e a capacidade delas de gerar valor. Isso não muda no caso das companhias em recuperação.

O grupo de 24 companhias em recuperação judicial ou extrajudicial na bolsa engloba a gigante da telefonia Oi; a MMX Mineração, fundada por Eike Batista; e a livraria Saraiva, por exemplo.

Mais risco x mais retorno

A questão é que essas companhias estão passando por dificuldade financeira, reconhecida em cartório, ou melhor, pela Justiça. Com isso, a chance de o investidor terminar com um mico na mão é maior. Só que mais risco, no mercado de ações, pode significar também a chance de ter mais retorno.

A entrada em recuperação tem o poder de derrubar o preço das ações. E, em papéis baratos, pequenas variações de preço significam grandes mudanças percentuais.

No fim desta mesma terça, uma ação da Eternit, empresa que explorava amianto e entrou em recuperação depois de proibirem a venda dos derivados do minério, eram negociadas por R$ 4,90. Uma diferença de apenas 90 centavos em relação ao fechamento da segunda-feira, mas que significou um ganho de 22% —em um dia— para seus acionistas.

Mas quedas são igualmente grandes. Não há consenso sobre o número de empresas que realmente se recuperam. Há estudos que apontam 2%, mas levando em conta todo o tipo de companhia. Outros, apontam cerca de 40%, examinando menos de cem casos em São Paulo.

O Instituto Recupera Brasil, que desenvolve estudos sobre o tema, identificou 420 empresas S.A. que entraram em recuperação desde 2005, quando a Lei de Recuperação Judicial e Falências foi aprovada. Ou seja, é um mar de casos, com resultados díspares o bastante para dizer que a única certeza é a incerteza.

Logo, se uma companhia que desperta seu interesse entrou em recuperação judicial e está com ações, a seu ver, a preço de banana, é hora de fazer o dever de casa.

Dever de casa

Normalmente, o que se olha para saber se uma empresa está saudável é a projeção do fluxo de caixa, os indicadores fundamentalistas e balanços. Para correr o risco de investir em uma empresa em recuperação, é aconselhável ir mais fundo.

Um fator importante é o valor de liquidação. Ou seja: se aquela empresa quebrar hoje, a venda de todos os seus bens dá conta de pagar todas as suas dívidas e, ainda, seus acionistas? Lembre-se: os acionistas ficam lá atrás na fila de pagamentos no caso de falência.

Outro ponto é ficar atento às notícias. Com oscilação grande, as ações dessas empresas são chamadas, no jargão do mercado financeiro, de “papéis de eventos”, cujos preços variam de acordo com a divulgação de informações sobre elas. Um fornecedor que fechou as portas ou o barateamento de uma tecnologia podem fazer o preço pular ou afundar.

E, finalmente, tem o que parece ser o pulo do gato para o pequeno investidor: há um caminho claro para conhecer detalhes da operação dessas companhias. É que, para entrar em recuperação, elas precisaram colocar no papel todos os seus planos para dar a volta por cima. E tudo isso, claro, teve de ser aprovado por seus credores e aceitos pela Justiça.

Esse documento, o plano de recuperação judicial, está disponível no processo, que é público, e pode ser lido por qualquer interessado. Também não costuma ser difícil encontrar o documento na internet.

Lá estão os prazos para pagamentos, a lista de fornecedores e a avaliação de todos os bens e ativos da companhia, mostrando de forma clara e concreta como ela pretende sair da crise.

Vale lembrar que, como sempre há um banco entre os credores (antes de chegar a esse ponto, todo mundo pega empréstimo), o plano já foi analisado e pareceu factível para quem realmente entende de dinheiro e tem interesse em receber daquela empresa.

Se ficar com dúvidas em relação ao documento, pode também levar o documento para a análise de profissionais, como advogados e economistas especializados na área.

Uma dica: você deve se aproveitar do trabalho dos administradores judiciais, profissionais nomeados pela Justiça para fiscalizar o cumprimento do processo de recuperação e manter os credores informados.

Eles são obrigados a enviar relatórios mensais aos credores, apontando onde a empresa está indo bem e onde parece estar falhando. Informações cruciais para quem investe nelas.

Esses documentos costumam ficar disponíveis nos sites de Relações com Investidores das empresas, ou em páginas criadas pelos próprios administradores, para dar transparência ao processo. E são um verdadeiro raio-X da operação.

Discurso de vendedor
Com todas essas informações em mãos, aí sim é o momento de ver quanto do seu dinheiro deve ir para aqueles papéis.

Não é sempre que você vai encontrar ações de uma grande empresa como a Oi abaixo de R$ 1, ou uma valorização de mais de 20% em um dia, como a Triunfo Participações e a Eternit apresentaram nesta semana.

Mas o discurso de que é preciso comprar porque “os preços estão baixos” ou porque as ações oferecem “chance de dobrar seus investimentos” cai melhor em esquemas de pirâmide financeira do que em investimentos de verdade.

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