Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Descrição de chapéu Coronavírus

O sonho da casa própria foi adiado, mas construção tem oportunidades para quem pode esperar

Confiança do brasileiro na melhora da economia é pouca e já abala expectativa na compra de imóveis

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O brasileiro tem tanta confiança na melhora da economia nos próximos meses quanto tinha logo após o impeachment de Dilma Rousseff. Ou seja, pouquíssima.

Muito além de uma impressão pessoal, isso está demonstrado pelo Índice de Confiança do Consumidor, feito pela Fundação Getulio Vargas, com entrevistas em mais de 1,7 mil domicílios.

Essa falta de confiança mudou os planos de quem pretendia começar uma vida nova em um novo lar. A expectativa de comprar um bem durável, como um apartamento, está 25% menor do que no mesmo período do ano passado.

É uma inesperada depressão depois da euforia. Novamente, graças à pandemia de coronavirus.

Um homem desinfeta becos na favela Santa Marta no Rio de Janeiro - Ricardo Moraes - 10.abr.2020/Reuters

O baque no setor imobiliário vem logo depois do melhor mês de fevereiro da história do mercado em São Paulo. A série histórica, que é feita desde 2004, apontou que 3,6 mil unidades foram vendidas, enquanto 2,1 mil foram lançadas no segundo mês do ano.

Março foi um mês morto e, agora, a falta de confiança em dias melhores para além da quarentena tem levado investidores do mercado imobiliário a repensar seus caminhos.

As ações de empresas do setor estão com preços mais baixos do que logo antes da crise, mas é interessante notar que algumas estão sendo vendidas muito mais caro do que há exatamente um ano. Trisul e EZ Tec, por exemplo, tiveram uma valorização de 62% e 60%, respectivamente.

É um setor que estava em franca recuperação e, agora, vai ter que colocar o pé no freio, de novo. Quem é da área lembra o bordão: o setor imobiliário é o primeiro a sentir e o último a sair de uma crise.

Nos fundos de investimento imobiliário, que captam de investidores para aplicar em empreendimentos e empresas do setor, a desvalorização atingiu todos os segmentos. Os que investem em hotéis, viram sua rentabilidade cair 35% neste ano. Os que atuam no segmento hospitalar, sentiram uma queda de 10% até o último dia 14.

Lançamentos adiados

Nas incorporadoras, a “solução” tem sido o óbvio adiar. Deixar os lançamentos para quando houver uma perspectiva de poder vender. Para isso, precisam de fôlego.

Por isso, para quem gosta da ideia de comprar ações do setor neste momento, seja por familiaridade com o tema ou porque a construção parece mais palpável (uma volta no bairro permite ver se há prédios “subindo”), o ideal é ficar de olho em caixa e estoque das companhias.

O caixa mostra o fôlego para aguentar os custos sem fazer novos lançamentos. Abaixo, preparamos uma tabela com as dez companhias com mais caixa.

Já o estoque é a quantidade de imóveis “encalhados”, que determina se os lançamentos têm sido lucrativos ou se houve, por exemplo, muito distrato durante a crise. Eles podem ser consultados nos releases de venda das empresas.

10 empresas do setor com mais dinheiro em caixa

Empresa Ação Caixa
Cyrela CYRE3 R$ 1.365.056.000
EZ Tec EZTC3 R$ 1.306.913.000
Tenda TEND3 R$ 1.070.452.000
Even EVEN3 R$ 931.392.000
Direcional DIRR3 R$ 729.382.000
MRV MRVE3 R$ 674.919.000
Helbor HBOR3 R$ 580.950.000
João Fortes Engenharia JFEN3 R$ 580.950.000
JHSF JHSF3 R$ 537.104.000
Trisul TRIS3 R$ 488.058.000

*Dados informados em dezembro de 2019

Fonte: TradeMap

Empurrãozinho do governo

Uma aposta do governo para manter girando a roda da construção foi o recém-anunciado pacote da Caixa que oferece R$ 154 bilhões em linhas de crédito imobiliário para pessoas e empresas, com carência de seis meses para o início do pagamento.

Segundo o presidente do banco, Pedro Guimarães, com o dinheiro, 530 mil unidades de habitação serão construídas.

Resta saber se as empresas que constroem imóveis do segmento econômico, para os quais o valor se destina, vão topar a aposta e pegar o dinheiro para construir sem a certeza da venda. Analistas do mercado andam céticos, mas ainda assim é uma oferta de “dinheiro barato”.

Três das empresas listadas em bolsa constroem de olho nas classes C e D: Tenda, Direcional e MRV.

O cenário de desemprego e redução salarial afetando a já comprometida renda das famílias mais pobres é o principal fator de risco de as companhias construírem, mas não terem para quem vender.

Já quem constrói apartamentos para o andar de cima, como EZ Tec, Cyrela e Gafisa, tem a expectativa de conseguir vender seus estoques quando a economia começar a acenar melhoras, já que seu público tem dinheiro guardado ou aplicado.

Como o ciclo do setor da construção é longo, quem decidir investir em incorporadoras agora, é hora de decidir com base em informações e preços de hoje, mas sonhando com resultados positivos daqui a um ano ou mais.​

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