Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Com dólar nas alturas, prejuízos bilionários viram detalhes

O que, no fim das contas, vai dizer se as ações são bom investimento, são os resultados e previsões sobre a operação

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“Prejuízo bilionário.” Se seu coração não acelera ao ler essas duas palavrinhas ao lado do nome das empresas em que você investe, parabéns, você tem os nervos de aço que o mercado financeiro exige.

Mas é difícil quem não arregale os olhos ao ler uma manchete sobre o prejuízo de R$ 13,4 bilhões da Suzano ou o de R$ 5,9 bilhões da JBS no primeiro trimestre deste ano.

A primeira impressão é que as empresas estão quebrando, derretendo em meio à pandemia de coronavírus. Mas, calma, a exportação de carne vai bem, obrigado. De celulose também.

E grandes corretoras como BTG e XP continuam recomendando a compra das ações (JBSS3 e SUZB3), mesmo depois da apresentação dos resultados.

Como isso é possível, mesmo com os “prejuízos bilionários”?

Acontece que o prejuízo delas não é como o nosso. É a diferença entre o mundo da contabilidade e a realidade que nos assola.

Estranho, a princípio, mas dá para explicar rapidinho. Quem compra ou quer comprar os papéis das duas empresas já sabe que elas têm a exportação como carro forte. Justamente nessa força que está a pegadinha do prejuízo.

Empresas globais têm fornecedores internacionais. Assim, compram, e fazem dívidas, em dólar. E o dólar nas nuvens leva essas dívidas com ele.

As dívidas, por sua vez, são computadas como despesas desde já, mesmo que só precisem ser pagas daqui a seis meses, por exemplo.

Então essa dívida que aparece no balanço pela cotação atual do dólar, será paga nos próximos meses, com a cotação do dia do pagamento. E, como as vendas das empresas também são em dólar, quando for a hora de pagar, a companhia terá recebido outros tantos dólares.

Assim, a alta da moeda americana é ruim apenas para o balanço, que computa as dívidas, mesmo que parceladas, como despesas. Se estiverem equilibradas com a previsão de vendas e receitas da empresa, não é nenhum problema.

Veja as empresas listadas na Bolsa com mais dívidas em dólar:

Maior dívida em dólar

Empresa Divida em bilhões de US$
Suzano 57,6
JBS 15,7
Minerva 9,8
CPFL Energia 9,1

Cemig

8,0
Cemig GT 8,0
B3 4,0
Energisa 3,7
Light 2,9
PetroRio 2,4
Fonte: TradeMap - dados de 31 de março de 2020

Maior participação da dívida em dólar na dívida bruta

Empresa % da dívida bruta em US$
General Shopping 99
Light 98
Weg 93
CEE-GT 92
Cemig GT 85
Minerva 84
PetroRio 78
B3 76
Suzano 76
Alpargatas 75
Fonte: TradeMap - dados de 31 de março de 2020

Instrumentos de defesa

Mas o que fez muitos investidores coçarem a cabeça, ao ler o noticiário sobre a Suzano, foram as tais operações de hedge, uma espécie de defesa contra variações do câmbio.

Cerca de R$ 9 bilhões da dívida reportada pela companhia vieram disso.

São operações financeiras com derivativos do dólar. Em resumo, aplicações financeiras com o preço atrelado às variações da moeda americana.

A empresa faz contratos se comprometendo, grosso modo, a comprar ou vender dólar, lá na frente, pelo preço de hoje.

Como sua receita em moeda americana é alta, esse é um jeito de não levar um tombo quando o preço do dólar cai. De certa forma, “trava o preço” em uma margem.

Nesse caso da Suzano, são diversos contratos para venda de dólar, que vencem até em setembro de 2021, com a moeda cotada entre R$ 4,09 e R$ 4,47.

Se o dólar for além disso, o ganho da companhia nas vendas vai aumentar, e o que ela deixar de ganhar com esses contratos de segurança não será um problema. Se o dólar cair abaixo da margem, a empresa vende a moeda pelo preço combinado e embolsa a diferença.

Acontece que esses contratos também entram no balanço, com a cotação atual. Mesmo que a empresa só vá desembolsar a grana quando os contratos vencerem.

Assim, uma dívida de R$ 9 bilhões, que ganha a manchete do noticiário, vira só mais uma anotação para quem está analisando a fundo os papéis da empresa.

O que, no fim das contas, vai dizer se as ações são um bom investimento, são os resultados e previsões sobre a operação. O que a empresa realmente está gerando de valor, no mundo real. E o que o futuro reserva para ela, até onde for possível prever.

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