Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

Investidor poderá testar Código de Ética da Qualicorp

Empresa criou comitê independente para investigar acusações contra fundador

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“A empresa não favorece qualquer forma de concessão de vantagens ou privilégios a funcionários públicos no exercício de sua função.” O texto, que poderia pertencer a qualquer manual de boas práticas, estava no Código de Ética e Conduta da Qualicorp, já em 2013.

No ano seguinte, o documento da gigante dos planos de saúde foi atualizado, para o caso de algum espertinho alegar não saber o que são vantagens indevidas. Incluiu-se a explicação: “Consiste da oferta de algo de valor a agente público, tais como: dinheiro, diversão, viagens, presentes, algo de valor para respectivos parentes, doações, dentre outros”.

Coincidentemente, a alteração foi feita no mesmo ano em que o fundador da empresa, José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, teria feito um pedido de doações para o então candidato a senador José Serra.

José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp
José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp - Zanone Fraissat/Folhapress

O dinheiro teria chegado de forma irregular (caixa dois), segundo acusação baseada na delação do ex-diretor-presidente de um dos braços do grupo Qualicorp, Elon Gomes de Almeida.

Segundo o próprio delator, não teria saído nenhum dinheiro das contas de Júnior nem da Qualicorp. O valor teria passado através de empresas de Elon até empresas ligadas ao candidato tucano, que também nega as acusações.

De qualquer modo, o fundador da Qualicorp foi preso, temporariamente, nesta terça-feira (21). As ações da empresa (QUAL3) caíram mais do que 6% (no mesmo dia, o Ibovespa caiu 0,11%). A dor não foi tanta, já que haviam subido 9,4% nos dias anteriores.

Veja só: nem Júnior nem seu delator, Elon, estão mais na companhia. O primeiro, aliás, saiu de lá abanando um cheque de R$ 150 milhões, como contrapartida para não competir com a empresa.

Ainda assim, as notícias repercutem diretamente na cotação dos papéis.

A Qualicorp correu para dizer que Seripieri “não ocupa qualquer cargo na administração da Qualicorp e não é dela um acionista relevante”.

Vale aqui uma observação: As notas divulgadas pela empresa ignoram o envolvimento dele, ainda este ano, na negociação da QSaúde, subsidiária que pretende ser uma espécie de plano de saúde digital e de baixo custo. O valor do negócio era estimado em R$ 75 milhões.

Dois dias depois da prisão, a Qualicorp criou um comitê independente para investigar as acusações do processo. E o mercado sinalizou aprovação. As ações voltaram a subir, invertendo a tendência.

As oscilações de preço nesses casos parecem sempre apressadas, tanto na queda quanto na ascensão. O fato de um delator dizer que seguiu orientações de Seripieri não muda em nada o funcionamento da empresa. Bem como o fato de ser instaurado um comitê não quer dizer que ele realmente vai identificar problemas no funcionamento da companhia que possam ser solucionados.

Agora, no entanto, o investidor que tem ações da Qualicorp tem a chance de testar o quão sólido é o Código de Ética e Conduta da empresa. Se tanto a acusação quanto o comitê forem mais do que apenas palavras, identificar os furos e tapá-los pode trazer dinheiro para dentro da empresa.

Acompanhar os resultados da tal investigação independente, exigindo abertura, pode ajudar a decidir pela compra ou pela venda das ações.

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