Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

Com venda da BR, Petrobras rosna, mas não faz dinheiro

A decisão, neste momento, parece mais uma rosnada para o Congresso e um aceno leve para o público

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Ao anunciar a venda de sua fatia da BR Distribuidora, a Petrobras desiste de participar de um mercado lucrativo. E a razão para isso não pode ser simplesmente fazer caixa.

São 37,5% de uma empresa cujo valor de mercado está em R$ 25 bilhões.

Na conta simples, serão R$ 9,4 bilhões a mais no caixa da Petrobras. Como a receita da petroleira em 2019 foi de R$ 302 bilhões, o dinheiro das ações da BR significaria um irrisório incremento de 3%.

Tanto as ações da petroleira como as da distribuidora tiveram desempenho pior que do Ibovespa em 2020.

Posto de combustível da bandeira BR em Perdizes, zona oeste de São Paulo - Rodrigo Capote - 12.mai.11/Folhapress

Mas enquanto a Petrobras teve redução de 17,8% de seu patrimônio líquido nos seis primeiros meses deste ano, a BR terminou o semestre com 11,9% de patrimônio a mais.

A disparidade entre o patrimônio líquido e o preço dos papéis é um dos indicadores de que uma ação está cara ou barata. No caso da BR, os papéis estão bem mais baratos hoje do que no início do ano.

Por que fazer esse anúncio agora, então, uma vez que o movimento já era aguardado desde o ano passado, quando a Petrobras se desfez do controle da empresa?

No pregão desta quinta (27), os papéis da BR (BRDT3) sofreram uma queda leve, de 3,2%. Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) praticamente não se alteraram, bem como o Ibovespa. Traduzindo: não foi bom para ninguém.

A decisão, neste momento, parece mais uma rosnada para o Congresso e um aceno leve para o público que entendeu a saída de Salim Mattar da Secretaria de Desestatização como um adeus às privatizações.

Ela foi tomada um mês depois de as Mesas do Senado e da Câmara irem ao Supremo Tribunal Federal contra o que acusaram ser uma estratégia do governo Bolsonaro para privatizar a Petrobras aos pedaços.

As refinarias estariam sendo divididas em subsidiárias da petroleira para serem vendidas a seu bel prazer, uma vez que a venda de subsidiárias de estatais independe de aprovação do Legislativo.

Consultado, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) disse que a venda das refinarias é parte de um acordo para reduzir o monopólio.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) gostou da explicação e pediu que a Casa fosse retirada da ação. O Senado continua na briga.

O autor do questionamento que deu origem ao pedido, Jean Paul Prates (PT-RN), alega que o momento é ruim até mesmo para gerar caixa com a venda das refinarias.

“Em plena pandemia, o mercado de combustíveis está deprimido e incerto. As margens de refino estão muito baixas, o que deprecia o valor”, argumenta Prates.

Agora, enquanto ocupa uma mão nessa queda de braço com o Legislativo, com a outra, a Petrobras joga ao mercado o pedaço que ainda tem da BR Distribuidora.

Como ninguém correu para comprar ações da petroleira nem da sua ex-subsidiária, fica novamente a impressão de movimentação política, desprezando o pragmatismo —em geral, mais apreciado pelo mercado.

Para o investidor, sobram incertezas sobre o funcionamento da BR com a Petrobras totalmente fora do quadro de acionistas e sobre a motivação das decisões da petroleira.​

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