Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Salim Mattar pintou fantasia para investidor de Eletrobras e Telebras

Ao deixar o posto, empresário apontou cenário desanimador para quem apostava nas desestatizações

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Há praticamente um ano, no dia 21 de agosto de 2019, o governo do presidente Jair Bolsonaro anunciou com pompa e circunstância a lista de 17 empresas estatais que seriam privatizadas “nos próximos meses”.

O empresário Salim Mattar, dono da locadora de carros Localiza, ocupava, então, há sete meses, a secretaria especial de Desestatização e Desinvestimento.

O impacto da divulgação da lista no mercado foi tremendo. A Telebras, estatal de telecomunicações, viu o preço dos seus papéis disparar. Em poucos dias, as ações ordinárias (TELB3) saíram da casa dos R$ 22 e chegaram a R$ 157.

Mesmo quando o mercado de ações teve as piores baixas por conta da pandemia de coronavírus, os papéis ficaram longe dos preços antigos, mantendo-se acima de R$ 50.

Paulo Guedes em fotomontagem com luzes de fundo, em imagem semelhante a de novela brasielria
Nós vamos privatizar, nós vamos inisistir nesse caminho, nós vamos lutar, disse Paulo Guedes após 'debandada' de secretários - .giff

No mês passado, voltaram a subir em ritmo aceleradíssimo, passando de R$ 180.

Julho foi um mês positivo também para outra estatal, a Eletrobras. Suas ações ordinárias, ELET3, que vinham acompanhando o Ibovespa, se distanciaram do índice e atingiram um pico de R$ 40, preço que não viam desde o fim de janeiro.

O otimismo com as duas empresas ganhou um belo empurrão de Mattar no dia 1º de julho, quando afirmou que o Brasil privatizaria seis estatais, incluindo a Eletrobras, já no primeiro semestre de 2021. No segundo semestre, seriam outras seis, entre as quais a Telebras.

Agora, quem comprou ações das companhias confiando no trabalho do então secretário para levá-las ao mercado assiste atônito à queda dos preços com sua saída do governo.

Entre a última terça-feira (11), quando Mattar pediu as contas, e a tarde desta quinta (13), os papéis ordinários da Eletrobras caíram 13% e os da Telebras, quase 9%.

Ao deixar o posto, o empresário pintou um quadro desanimador para quem apostava na “desestatização”, mas, pior que isso, mostrou que os prazos que ele mesmo anunciou quando secretário especial eram pura fantasia.

Em artigo publicado pelo site Brazil Journal, no qual tenta justificar sua saída, Mattar afirma: “Durante o governo FHC, as estatais foram vendidas num prazo médio de 30 meses (...). Neste governo não será diferente”.

Ainda segundo o texto, o Congresso já “disse não à privatização” e o governo não tem base de sustentação no Legislativo, que precisa aprovar a “desestatização” de diversas empresas.

Ora, se o prazo médio para uma privatização é de 30 meses e as perspectivas de aprovação no Congresso são baixas, como a “desestatização” de uma companhia complexa como a Eletrobras pode estar prevista para o primeiro semestre do ano que vem?

O efeito da saída do responsável pelas privatizações foi sentido. Paulo Guedes reagiu ao que chamou de “debandada” (Mattar não foi o único a abandonar o barco recentemente). “Nós vamos privatizar, nós vamos inisistir nesse caminho, nós vamos lutar”, disse o ministro da Economia.

Até Bolsonaro apareceu para tentar acalmar os ânimos. Em uma de suas “lives”, disse que estão tentando privatizar “muita coisa”, mas que “não é fácil”.

A confusão entre o que o governo diz querer fazer e o que efetivamente consegue pode dar algum dinheiro para quem especula com as oscilações do mercado.

Para o investidor que deseja ser sócio da Eletrobras e da Telebras por enxergar seu potencial e confiar em seus projetos, a carta de Salim Mattar trouxe apenas incertezas, costumeiras rivais dos bons investimentos.

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