Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcos de Vasconcellos

Disputa pela Laureate agita mercado da educação na Bolsa

Com tantas variáveis, usar ações para apostar como numa corrida de cavalos parece receita ideal para perder dinheiro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Pelo celular, tablet ou computador, crianças e adolescentes continuam assistindo aulas. Como a matrícula em instituição de ensino básico é obrigação legal dos pais, uma pequena parcela das famílias foi além de renegociar mensalidades com as escolas. No ensino superior, a coisa foi diferente.

Adultos, que, muitas vezes, pagam seus próprios cursos, viram as contas apertarem e suspenderam matrículas. Assim, chacoalharam com o mercado do ensino no Brasil.

A Cogna, maior empresa de ensino do Brasil, cujo valor de mercado hoje é de R$ 10,8 bilhões, exemplifica bem o movimento.

Enquanto a sua marca voltada para o ensino básico teve uma queda de receita de quase 12% no segundo trimestre, em relação ao mesmo período em 2019, o braço do ensino superior (marca Kroton) viu a entrada de dinheiro cair 21%.

Ainda que a empresa tenha bastante foco em tecnologia, conseguindo, inclusive, “aproveitar” a pandemia para vender conteúdo de aulas para prefeituras, o ensino superior representou 3/4 da sua receita. O impacto da pandemia de coronavírus, no segundo trimestre de 2020, reduziu em mais de 20% sua receita, como um todo.

Sua principal concorrente no mercado, Yduqs, dona da Estácio e de marcas como Ibmec, por exemplo, conseguiu aumentar a receita no trimestre, ainda que seja apenas 3,5%. É um esforço considerável, levando em conta o ambiente perfeito para a evasão de alunos.

“Em uma semana pusemos todas as pessoas trabalhando de casa e viabilizamos 15 mil aulas por semana via Microsoft Teams, para mais de 300 mil alunos presenciais”, vangloriou-se a empresa, com valor de mercado de R$ 9,1 bilhões, ao apresentar os resultados do primeiro semestre.

Os resultados do trimestre explicam, em parte, por que as ações da Cogna (COGN3) estão demorando mais a se levantar do que as da Yduqs (YDUQ3). Enquanto estas acumulam uma queda de 35% no ano, aquelas estão custando metade do preço que tinham em janeiro.

Piruetas na Bolsa

Agora, a Yduqs tem à sua frente a chance de ultrapassar a concorrente e ser encimada ao primeiro lugar da lista das maiores empresas do setor.

É um negócio de cerca de R$ 4 bilhões: a compra da operação do grupo estrangeiro Laureate no Brasil, dono de instituições como Anhembi Morumbi e FMU.

Para isso, ela tem que brigar com outros players relevantes do mercado, os grupos Ser Educacional e, de acordo com notícias recentes, Ânima Educação.

Em valor de mercado, o grupo Ser vale menos de um quarto da Yduqs, o outro concorrente, quase um terço, mas isso não significa que tenham menos espaço para brigar pelas carteiras de quase 270 mil alunos.

As ofertas ainda vão ser analisadas tanto pelo grupo Laureate quanto pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que poderá vetar ou alterar os rumos da negociação para impedir uma concentração muito grande do mercado. Ainda assim, a simples existência da possibilidade já fez os preços das ações na Bolsa darem piruetas.

Os papéis da Ser (SEER3) chegaram a subir 13% nesta segunda-feira (14). Logo após o grupo divulgar que havia firmado acordo com o Laureate, diversos veículos deram o negócio como certo e muitos investidores foram às compras.

Acontece que o próprio documento divulgado pela companhia falava da existência de uma cláusula de “go-shop”, ou seja: os estrangeiros têm direito de negociar com outros possíveis compradores.

A Yduqs sinalizou interesse e seus papéis saltaram 9%, os da Ânima Educação (ANIM3), 8%.

Ainda que o Laureate seja obrigado a pagar uma multa de R$ 180 milhões ao grupo Ser, caso feche com outro player, isso representaria apenas 5% do valor estimado do negócio.

Com tantas empresas e variáveis na disputa, usar as ações para apostar como se fosse uma corrida de cavalos parece a receita ideal para perder dinheiro.

Mais interessante é entender a direção que as empresas têm tomado para migrar seu modelo de ensino para uma forma híbrida entre presencial e à distância. Afinal, o passado em salas de aula parece cada vez mais distante.

Os números do segundo trimestre dão a noção de quem está fazendo mais no meio da pandemia. E quem poderá fazer mais caso ganhe a contenda pelos novos estudantes.

Abaixo, é possível ver, com os dados dos seis primeiros meses do ano, como cada uma das empresas na disputa pela Laureate tem conseguido gerar lucro com o dinheiro investido por seus acionistas (ROE, sigla para Retorno sobre Patrimônio Líquido, em inglês).

Empresa

ROE (2T2020)

Yduqs

9,34%

Ser Educacional

6,82%

Ânima

-2,43%

Fonte: Monitor do Mercado

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.