Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Agora todos podem investir em gigantes globais; será que devem?

Para quem entrar nesse mercado, é bom passar a olhar, nem que seja de vez em quando, noticiário internacional

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O investidor brasileiro provou que está fazendo o que pode para diversificar sua carteira de investimentos, como recomenda o manual.

Nesta quinta-feira (22), quando começaram a valer as novas regras da nossa Bolsa, permitindo a qualquer um investir em empresas estrangeiras, o volume de negociações dos papéis de companhias pouco tradicionais, como Tesla, Netflix e Alibaba, explodiu.

A negociação é feita através dos BDRs, sigla para Brazilian Depositary Receipts (certificados de depósito de valores mobiliários). Há diferentes tipos de BDR, mas a base é uma só: trata-se de um papel emitido no Brasil que representa outro, de uma empresa no exterior. Sua variação reflete a da ação principal da empresa.

Até esta quinta, vender e comprar BDRs era apenas para os chamados “investidores qualificados”, com aplicações financeiras de pelo menos R$ 1 milhão.

Quando foi aberta a porteira para os reles mortais, ficou evidente a demanda reprimida.

Enquanto o volume médio de negociações dos BDRs da montadora Tesla (TSLA34) é de 23 mil ao dia, em cinco horas de pregão sob as novas regras, o papel já tinha sido vendido e comprado 201 mil vezes.

Até esta quinta, vender e comprar BDRs era apenas para os chamados 'investidores qualificados', com aplicações financeiras de pelo menos R$ 1 milhão
Até esta quinta, vender e comprar BDRs era apenas para os chamados 'investidores qualificados', com aplicações financeiras de pelo menos R$ 1 milhão - Brendan McDermid/Reuters

A valorização da empresa do excêntrico bilionário Elon Musk, que enviou um de seus carros para o espaço sideral em 2018, chegou a 1.000% no último ano.

A diferença entre a média de negociações diárias e o número de vendas durante o pregão desta quinta foi ainda mais gritante para empresas com operações totalmente voltadas à tecnologia.

O número de negócios fechados com BDRs do site chinês de e-commerce Alibaba ficou acima de 170 mil. A média é de 1,9 mil por dia.

A negociação dos papéis da plataforma de vídeos Netflix, feita em média 460 vezes por dia, passou de 21 mil.

Já o número de negociações com papéis da tradicionalíssima GE, por exemplo, foram metade da média.

O volume de negociação dos BDRs ainda é irrisório em relação ao mercado em geral. Para comparação, cabe dizer que só nesta quinta, foram negociadas quase 25 milhões de ações da Petrobras.

Ainda assim, os números mostram a fome do investidor “pessoa física” por novos papéis e novos mercados. E novas dores de cabeça, por que não?

Comprar BDRs de empresas dos EUA pressupõe acreditar que elas terão um bom cenário para crescer nos próximos anos.

Em 15 dias, os Estados Unidos elegerão seu próximo presidente. O democrata Joe Biden é o favorito para tirar a cadeira de Donald Trump, que busca a reeleição.

A tensão política é extremamente agravada pelo fato de ainda não termos uma cura ou vacina para a Covid-19, que abala e abalou os mercados de todo o mundo.

Por isso, antes de ir às compras, vale à pena dar ao menos uma olhada em como o resultado da votação pode afetar o setor e a empresa cujos BDRs te atraem.

Enquanto a reeleição de Trump traz um cenário de continuidade, a vitória de Biden prevê mudanças como aumentar impostos para empresas que terceirizam parte de sua produção para outros países.

Há ainda em seus planos o aumento da taxação de ganhos de capital e dividendos, o que pode levar a um movimento de muitas vendas de ações no mercado americano.

Como os democratas são favoritos para ganhar a maioria no Senado e na Câmara, a aprovação das novas regras torna-se ainda mais provável.

Previsões não são certezas, ainda mais se tratando do complexo sistema eleitoral americano, com seus delegados.

Mas a lição que fica é que se você quer entrar na nova moda dos BDRs e ampliar a diversificação da sua carteira de investimentos, é bom passar a olhar, nem que seja de vez em quando, o noticiário internacional. Ao menos vai diminuir a chance de ser surpreendido pelas respostas do mercado afetando suas economias.

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