Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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O real impacto do assassinato de João Alberto para acionistas do Carrefour

Números de vendas no 3º trimestre foram mais prejudiciais às ações do que a morte de João Alberto

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O injustificável assassinato de João Alberto Freitas no último dia 19, em uma loja da rede Carrefour, abalou o Brasil. E isso inclui o mercado financeiro.

As ações da rede de supermercados (que, no Brasil, leva o nome oficial Atacadão) tiveram uma leve alta no dia seguinte à morte, enquanto o Ibovespa teve uma sutilíssima queda.

O caso já era a manchete de todos os sites, manifestações ocorriam por todo o Brasil, mas era sexta-feira (20) e os investidores decidiram manter seu dinheiro nos papéis da empresa.

O fim de semana foi cheio de novas manifestações nas ruas e, certamente, de discussões internas na rede de supermercados. Na segunda-feira (23), foi então anunciada pelo Carrefour a criação de um fundo de R$ 25 milhões para promover a inclusão racial e combater o racismo no Brasil.

E justo nesse dia, quando o grupo finalmente apresentou medidas concretas em relação ao ocorrido, suas ações tiveram uma queda drástica, de mais de 5%, enquanto o Ibovespa subiu 1,2%.

O impacto financeiro do tal fundo nas contas do grupo é mínimo. Só em 2020, cinco diretores receberam cerca de R$ 48 milhões. O lucro da rede, em 2019, foi de R$ 1,3 bilhão.

O que acontece é que investidores relevantes do grupo também passaram o fim de semana discutindo o impacto da grave crise de imagem que abalou a marca e, naquela segunda, a ordem era vender.

A notícia sobre a queda do preço das ações do Carrefour ganhou a imprensa. Quem apoiava manifestações e boicotes até comemorou o impacto como uma espécie de “vitória”.

Uma rede de supermercados é, obviamente, dependente de manter seu público ativo em suas lojas.

A preocupação do Carrefour com isso fica clara em documento divulgado ao mercado no início do ano: "Eventual publicidade negativa que prejudique significativamente a reputação de uma ou mais de nossas marcas poderá ter um efeito negativo sobre o valor de todas as nossas marcas”.

A previsão se comprovou correta. A “publicidade negativa” levou a um problema financeiro e o valor de mercado da empresa caiu. Quem olhar com um pouco mais de atenção para as ações do Carrefour, no entanto, vai notar que o tombo no preço desta semana foi bem menor do que o ocorrido há quase um mês, mas que não ganhou tamanho destaque (por razões óbvias).

Entre 20 e 25 de novembro, os papéis CRFB3 caíram 6,6%. De 27 a 30 de outubro, a queda foi de espetaculares 8,3%. Dessa vez, não por causa de um escândalo relacionado à imagem da rede, mas da divulgação dos seus resultados no terceiro trimestre deste ano.

No dia 27 de outubro, o supermercado demonstrou ter aumentado as vendas em 31% no período. Os números foram elogiados por analistas de bancos como Credit Suisse e Goldman Sachs, mas investidores acharam que a ação estava cara para os resultados apresentados e decidiram vender seus papéis.

Em outras palavras, os números de vendas no terceiro trimestre foram mais prejudiciais às ações do Carrefour do que a morte de João Alberto e as manifestações.

Ainda assim, a partir do dia 30, os papéis voltaram a subir. Menos de um mês depois, já haviam recuperado totalmente o valor perdido. Quem estuda gráficos de ações repete o mantra: o preço tende à média. Se subiu, deve descer. E vice-versa.

Para o investidor que tem em mãos ações da rede de supermercado, vender pensando no impacto das manchetes nos preços costuma ser um mau negócio.

De certa forma, faz lembrar o caso da Vale. Suas ações hoje custam 35% a mais do que antes do desastre em Brumadinho, que derrubou os preços em janeiro de 2019.

Nesses momentos, optar por retirar o dinheiro investido na empresa está mais relacionado à questão moral de não querer financiar seu crescimento.

Ao mesmo tempo, vale lembrar que acionistas têm o direito de fiscalizar a gestão da empresa e canais para pressionar a administração da companhia a tomar medidas concretas que achar válidas, através das áreas de Relação com Investidores.

Assim, o investidor que sente nos ombros e no bolso o peso das ações e omissões das empresas nas quais investe precisa colocar na balança que atitudes suas terão mais impacto. E esse impacto pode ser tanto nas próprias finanças quanto na sociedade.

Comprar ações é como se tornar sócio de uma empresa. Cabe ao investidor decidir quando é hora de deixar a sociedade e quando é hora de tentar assumir uma postura mais ativa.

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