Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Bolsa 2020: Quem estava fora quis entrar, mas quem estava dentro...

A tendência de crescimento dos IPOs registrados na Bolsa contrasta com o número de empresas que fizeram follow-on

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O movimento de ofertas iniciais de ações na Bolsa em 2020 foi frenético. Os chamados IPOs ganharam atenção, devido ao volume impressionante que captaram para as empresas que ingressaram na Bolsa.

Foram companhias das mais diversas matizes. As novidades nos pregões trouxeram nomes mais conhecidos, como o petshop Petz e a joalheria Vivara, até empresas cujo negócio exige legenda, como a companhia de cashback (devolução de parte do dinheiro gasto em compras) Méliuz, e o brechó de roupas online Enjoei.

A tendência de crescimento dos IPOs registrados na Bolsa contrasta com o número de empresas que fizeram follow-on, ou seja, companhias já listadas em bolsa que emitiram novas ações para captar dinheiro.

Enquanto o volume financeiro movimentado pelos IPOs aumentou mais de 300%, saltando de R$ 9,8 bilhões para R$ 43,7 bilhões, o dinheiro captado através de follow on foi 7% menor em 2020, quando comparado com 2019. O valor ainda é mais do que expressivo, foi de R$ 79,7 bilhões para R$ 73,9 bilhões.

A queda é leve, mas chama a atenção que o mercado tenha sido tão mais atraente para as empresas que ainda não negociavam seus papéis do que para as que já os negociavam. É importante lembrar que o dinheiro da compra de ações só vai para o caixa da empresa nesses momentos. Quando você compra a ação de outro investidor, a companhia nada ganha diretamente.

O movimento tem algumas explicações, na visão de especialistas. Uma delas, explica a professora Claudia Yoshinaga, da FGV, é o fato de a crise decorrente da pandemia de coronavírus ter derrubado o preço das ações.

Uma empresa que viu seus papéis custarem um terço do preço pelo qual eram vendidos em janeiro, por exemplo, teria que diluir muito seus acionistas para captar o valor planejado.

Já para quem não estava na Bolsa, o aumento do número de investidores e apetite pelo risco (levando em conta os juros lá embaixo) era o bastante para lançar seus papéis para negociação.

O professor Marcelo Cambria, da Fecap, aponta outro motivo para as operações de follow on não terem seguido com o ânimo dos IPOs: o mercado de crédito está amadurecendo. Assim, as empresas estão aumentando a sua captação via debêntures, certificados de recebíveis imobiliários (CRI) e certificados de recebíveis do agronegócio (CRA).

Com isso, a fatia das operações de follow on vem sendo reduzida aos poucos na captação feita pelas companhias que já têm ação em Bolsa.

Outra contribuição para essa redução é o fato de, com as baixas taxas de juros, o crédito estar barato para empresas com solidez, como as listadas em Bolsa tradicionalmente são. Assim, fazer um follow on seria pagar mais caro por um dinheiro disponível no mercado.

Uma diferença importante é que o crédito que se consegue em instituições financeiras a um bom preço ainda é para curto e médio prazo, enquanto a emissão de novas ações é para projetos de longuíssimo prazo, como ressalta a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória.

Como a expectativa para 2021 é que as taxas de juros sigam a níveis baixos (ainda que aumentem, continuam baixos) e a Bolsa não leve novos sustos como com o início da pandemia, é de se esperar uma chuva de novos papéis em negociação, inclusive de empresas que já estão na Bolsa.

A corretora XP está com a perspectiva de que o número de operações (tanto de IPO como de follow on) chegue a quase o dobro do que foi visto em 2020. E o volume movimentado seja quase 50% maior, diz Vitor Saraiva, head de equity capital da corretora.

Se a empresa na qual você investe resolver fazer um follow on, não se assuste com uma queda nos preços. É um movimento natural, pois como vai ter mais ação no mercado, a diluição é “precificada”, como se diz.

O importante é ver para que servirá a nova captação. Pode ser para comprar um concorrente ou para ampliar a área de atuação da empresa, por exemplo. Cabe a você entender se o novo projeto realmente faz sentido para a empresa ou se seus gestores estão dando um passo maior do que as pernas. É essa diferença que fará os papéis refletirem os bons ou maus frutos a serem colhidos no futuro.

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