Começamos 2021 com muito menos certezas em relação ao futuro do que tínhamos há um ano. Ainda bem! Questionar é a parte mais importante para encontrar boas teses e saber se você não está sendo enrolado por seu gerente ou assessor de investimentos.
Para começar bem o ano, o melhor a fazer é colocar as cartas na mesa e tentar entender o jogo, sem esquecer a regra do pôquer: se você não sabe quem é o bobo da rodada, é provável que seja você.
Em 2020, a Bolsa subiu como um balão após atingir o que até hoje foi o fundo do poço (no fim de março) e o Ibovespa, em pleno ano de pandemia, bateu seu recorde histórico, com 120 mil pontos. Logo antes de fechar o último pregão do ano, o índice caiu um pouquinho (para os 119 mil pontos) acumulando uma variação de 0,7% no ano.
Pela lógica simples, isso significa que os investidores estão, hoje, com uma perspectiva 0,7% melhor do que no início do ano passado. Você está? A economia está 0,7% melhor?
Em relação ao dólar (que subiu quase 30% no ano), o Ibovespa acumula uma queda de cerca de 20%. Para fins de comparação, o S&P 500, principal índice de ações americanas, subiu coisa de 15%.
Olhando por esse ângulo, as ações estão mais baratas do que estavam no início de 2020, ao menos para quem negocia em dólar. Jogo de espelhos: a alta olhando daqui é uma queda olhando de lá.
O preço do dólar, além de explicar em parte a alta da nossa Bolsa, explica também por que a empresa mais valorizada dentre as listadas no Ibovespa nesse ano foi a CSN. Como grande parte de sua receita vem das exportações e a oferta de aço foi represada no começo da pandemia, a demanda explodiu (expliquei a jogada aqui) e os papéis da siderúrgica de 80 anos voaram mais de 120% em 2020.
Isso aconteceu justamente no ano que parecia ser do e-commerce, da tecnologia e das startups. Nos EUA, por exemplo, a ação mais valorizada do S&P 500 foi a Tesla, completamente voltada à inovação, com seus carros elétricos e baterias.
A diferença entre CSN e Tesla expõe como a nossa Bolsa ainda concentra investimentos em grandes companhias e mercados tradicionais. Mas isso parece estar mudando e deve surtir efeitos neste novo ano.
Em 2020, foram feitas 28 ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), nas quais as empresas levantaram R$ 117 bilhões, o maior montante da história. Para quem tinha 328 companhias listadas na Bolsa no fim de 2019, significa um expressivo aumento de 8,5% no mercado.
Ainda que quase metade dos papéis que entraram em circulação no ano passado tenha tido desempenho pior que o Ibovespa, o movimento mostra que as empresas estão confiando mais no mercado de ações como uma forma viável e interessante de levantar fundos para novos investimentos.
E essa confiança também está refletida no lado da demanda por ações. Ao fim de 2019, 1,6 milhão de pessoas investiam diretamente na Bolsa. Agora, passam dos 3,2 milhões.
De acordo com um estudo recente da B3, 56% das pessoas que começaram a comprar e vender ação nos últimos dois anos têm renda mensal de até R$ 5 mil. E 73% dos entrevistados disseram que aprenderam a investir com canais do YouTube e influenciadores.
Em resumo, 2021 é o ano que começa com a Bolsa cheia de gente nova, tanto do lado dos investidores quanto do lado das empresas.
O cardápio tende a ser ampliado, aumentando as oportunidades para bons ganhos, mas é importante lembrar de deixar os pés no chão, olhar euforias e depressões por diferentes ângulos, diversificar a carteira e ter em mente que nenhuma carteira sobe todo dia.
Feliz Ano Novo.
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